“Eles ainda se fazem ouvir, por certo. Há pouco, Roberto Da Matta, um dos mais importantes intérpretes da festa – com seu estilo sempre colorido -, tentou explicar em entrevista a um jornal carioca a diferença entre os que, como ele, a concebem como expressão de uma ‘cultura brasileira’ e os que insistem em criticar essa forma de essencialização: ‘É que eu gosto do Brasil’. Proferida como se fosse dotada de alto poder elucidativo, a frase – ao contrário do efeito pretendido, me deixa convencida de que vale a pena tentar outro caminho.
Se a folia tem sido tomada como ocasião de construir e exprimir simbolicamente a ‘essência do nosso sangue’, ouvir seus ecos em busca de outras sonoridades pode nos ensinar muito sobre o passado e o presente e, no silêncio das bibliotecas, ainda divertir e fazer pensar. O gozo e a risada fugazes que provocou em sucessivas gerações são irrecuperáveis. Mas seus ruídos ainda podem ser percebidos à distância se conseguirmos afinar o ouvido, apurar o gosto e, enfim, entender os múltiplos significados que ela comporta sob a aparência do mesmo.”
CUNHA,Maria Clementina Pereira. Ecos da folia: uma história social do carnaval carioca entre 1880-1920. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.