/ECOS DA FOLIA – “Não se pode dizer que jornalistas tenham sempre muita imaginação, apesar da sua conhecida facilidade para inventar notícias”

ECOS DA FOLIA – “Não se pode dizer que jornalistas tenham sempre muita imaginação, apesar da sua conhecida facilidade para inventar notícias”

“Não se pode dizer que jornalistas tenham sempre muita imaginação, apesar da sua conhecida facilidade para inventar notícias. Pelo menos nas décadas que cercam a virada do século XX, muitas charges, colunas e crônicas carnavalescas traziam com significativa frequência, no título e nos textos, a palavra ecos – do Carnaval, da pândega, dos salões, das ruas, da folia. Seu uso recorrente, em todo caso, sugere o fascínio que cercava a festa de Momo naqueles anos: algo capaz de manter no ar, mesmo nos dias seguintes, sua sonoridade original, digna de ser lembrada aos leitores.

Entretanto, a palavra pode ser aplicada também com propriedade a uma outra situação, para adquirir um novo sentido. Refiro-me à maneira como a descrição e a avaliação que esses cronistas lançaram sobre o Carnaval, ou a forma como registraram seus ‘ecos’ já distantes, foi apropriada e cristalizada por diferentes intérpretes que, pelo século XX adentro, buscaram imputar à folia um sentído unívoco.”

CUNHA,Maria Clementina Pereira. Ecos da folia: uma história social do carnaval carioca entre 1880-1920. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.