“Se as ruas são entes vivos, as ruas pensam, têm ideias, filosofia e religião. Há ruas inteiramente católicas, ruas protestantes, ruas livres-pensadoras e até ruas sem religião. (…) Há criaturas mais sem miolos do que o Largo do Rocio [Praça Tiradentes]? Devia ser respeitável e austero. Lá, Pedro I, trepado num belo cavalo e com um belo gesto, mostra aos povos a carta da independência, fingindo dar um grito que nunca deu. Pois bem: não há sujeito mais pândego e menos sério do que o velho ex-Largo do Rocio. Os seus sentimentos religiosos oscilam entre a Depravação e a Roleta.”
João do Rio. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995.