Há ruas fidalgas, há ruas macabras…
“Há ruas, guardas tradicionais da fidalguia, que deslizam como matronas conservadoras – a das Laranjeiras; há ruas lúgubres, por onde passais com um arrepio, sentindo o perigo da morte – o Largo do Moura por exemplo. Foi sempre assim. Lá existiu o Necrotério e antes do Necrotério lá se erguia a Forca. Antes da autópsia, o enforcamento. O velho largo macabro (…) Tresanda a crime, assusta. A Prainha também. Mesmo hoje, aberta, alargada com prédios novos, há de vos dar uma impressão de vago horror. À noite são mais densas as sombras, as luzes mais vermelhas, as figuras maiores. Por que terá essa rua um aspecto assim? Oh! Porque foi sempre má, porque foi ali o Aljube, ali padeceram os negros dos três primeiros trapiches do sal, porque também ali a Forca espalhou a morte!”
João do Rio. A alma encantadora das ruas. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, 1995.