“Outrora, havia quem arriscasse a vida nas Índias ou nas Américas para trazer consigo haveres que hoje nos parecem irrisórios; madeiras de pau-brasil; corantes vermelhos ou pimenta, tão loucamente apreciada no tempo de Henrique IV que a Corte usava-a, em caixas de bombons, para mascar. Esses estímulos visuais ou olfativos, esse alegre calor para os olhos, delicioso queimar para a língua, acrescentavam um registro novo ao teclado sensorial duma civilização que não suspeitava da sua sensaboria. Deveremos então dizer que, por intermédio de uma inversão dupla, os nossos modernos Marcos Polos trazem dessas mesmas terras, agora sob a forma de fotografias, livros e narrativas, as especiarias morais cuja necessidade aguda é experimentada pela nossa sociedade ao sentir que mergulha no tédio?”
Claude Lévi-Strauss. Tristes Trópicos. Lisboa: Edições 70, 1981.