No Brasil, mais especificamente em Salvador, Lévi-Strauss chega a ser detido por ter fotografado crianças negras:
“Ontem ainda, alguns meses antes da declaração de guerra e no caminho de regresso à França, estava eu na Bahia passeando na cidade alta, andando de uma para outra dessas igrejas que dizem ser em número de 365, uma para cada dia do ano, diferindo umas das outras pelo estilo e decoração interior tal como diferem os próprios dias e estações do ano. Estava muito atarefado a fotografar os pormenores arquitetônicos, perseguido dum lado para o outro por um bando de mulatitos seminus que suplicavam ‘tira o retrato! tira o retrato!’. Finalmente, comovido por uma mendicidade tão graciosa – uma fotografia que nunca mais veriam em lugar de algumas moedas – , consinto em tirar um instantâneo para contentar as crianças. Não tinha andado ainda cem metros quando uma mão se abate sobre o meu ombro; dois inspetores à paisana, que me tinham seguido a par e passo desde o começo do meu passeio, informam-me que acabo de cometer um ato hostil ao Brasil: essa fotografia, utilizada na Europa, podia confirmar a lenda segundo a qual há brasileiros de pele negra e que os garotos da Bahia andam descalços. Sou detido, por pouco tempo, felizmente, pois o barco ia partir.”
Claude Lévi-Strauss. Tristes Trópicos. Lisboa: Edições 70, 1981.