“Pode soar meio pomposo introduzir desta maneira uma obra que trata de subliteratos, editores piratas e mascates de livros proibidos. Mas o assunto é mais importante do que possa parecer: muita literatura foi proibida ao longo da história – e é proibida ainda hoje, como bem sabe quem conhece a luta do samizdat e de ‘universidade ambulante’, na Europa Oriental, contra o campo de concentração. A clandestinidade teve especial importância no século XVIII: a censura, a polícia e uma corporação monopolista de livreiros tentavam sujeitar a palavra escrita aos limites impostos pelas ortodoxias oficiais. Idéias heterodoxas só podiam circular através dos canais da clandestinidade. De que maneira? É bem pouco o que sabem os historiadores acerca da forma como era escrita, distribuída e lida, sob o Ancien Régime, a própria literatura ilegal. Dos livros proibidos, é natural, sabe-se menos ainda. A maior parte, contudo, do que hoje se tem por literatura francesa do século XVII transitava pela calçada não iluminada da lei na França daquele século. Meu livro passeia por esses trajetos.”