/Rubem Alves – “também era fraco, feio e ridículo”

Rubem Alves – “também era fraco, feio e ridículo”

“Tive vontade de berrar, um grito de ódio, mas nada fiz. Porque também era fraco e feio e ridículo. Ela é a única colega cujo nome não me esqueci. Suas iniciais eram I.K. Eu era novo no Rio de Janeiro, vindo do interior de Minas, onde ir à escola de sapato era um luxo. Fui ao colégio no primeiro dia de aula com sapato sem meia. Todos riram. No dia seguinte, fui de meia. Não adiantou. Riram-se do meu sotaque caipira. Tornei-me vítima dos valentões. Apanhei muito em silêncio porque não sabia me defender. Não tinha a quem apelar. Acontecia na rua, fora do olhar dos professores. Meus pais não saberiam o que fazer. Minha mãe me daria o único conselho que sabia dar: ‘Quando um não quer, dois não brigam’. É verdade, quando um não quer, um bate e o outro apanha.”

Rubem Alves, “A autoridade de fora” In: Lições do velho educador. Campinas: Papirus, 2013. p.143.