“Tenho uma ternura especial pelas coisas fracas, que não sabem ou conseguem se defender. E não só a fraqueza física: são as humilhações silenciosas que dilaceram a alma dos fracos.
Costumava caminhar num jardim que terminava em frente a uma escola. Observava meninos e meninas que iam juntos, bonitos, esbanjando alegria. Mas havia uma menina muito gorda que caminhava sempre só. Nunca vi um gesto dos alegres e bonitos convidando-a a juntar-se ao grupo. E ela nem tentava. Havia outra, magra, alta, sem seios, rosto coberto de espinhas, encurvada como se quisesse esconder-se dentro de si.”
Rubem Alves, “Um segredo que nunca revelei” In: Lições do velho educador. Campinas: Papirus, 2013. p.142.