Disciplinando o thymós (a afetividade, as emoções), a sophrosyne realiza uma cidade harmoniosa:
“O thymós é feito para obedecer, para submeter-se. A cura da loucura, como também sua prevenção, emprega os meios que permitem ‘persuadir’ o thymós, torná-lo disciplinado, dócil ao comando, para que não seja tentado jamais a entrar em rebelião, a reivindicar uma supremacia que entregaria a alma à desordem. Essas técnicas formam uma paideia que não tem valor somente no nível dos indivíduos. Realiza neles a saúde, o equilíbrio; torna suas almas ‘continentes’, mantendo em sujeição a parte que é feita para obedecer mas ao mesmo tempo adquire uma virtude social, uma função política: os males de que sofre a coletividade são precisamente a incontinência dos ricos, o espírito de subversão dos ‘maus’. Fazendo desaparecer um e outro, a sophrosyne realiza uma cidade harmoniosa e concorde, onde os ricos, longe de desejar sempre mais, dão aos pobres o que lhes sobra e onde a massa, longe de entrar em revolta, aceita submeter-se àqueles que, sendo melhores, têm o direito a possuir mais.”
Jean-Pierre Vernant, As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro/São Paulo: Difel, 1977.