/VERNANT – Éros e Hímeros, Amor e Desejo:

VERNANT – Éros e Hímeros, Amor e Desejo:

Éros e Hímeros, Amor e Desejo:

“No rastro de Afrodite, seguindo seus passos, nascem Éros e Hímeros, Amor e Desejo. Esse Eros não é o Eros primordial, mas um outro que, doravante, exige que haja o feminino e o masculino. Ocasionalmente, se dirá que ele é filho de Afrodite. Assim, Eros muda de função. Não mais representa o papel exercido nos primórdios do cosmo, que era o de trazer à luz o que estava contido na escuridão das forças primordiais. Agora, seu papel é unir dois seres bastante individualizados, de sexos diferentes, num jogo erótico que supõe uma estratégia amorosa e tudo o que isso comporta de sedução, concordância, ciúme. Eros une dois seres distintos para que, a partir deles, nasça um terceiro, que não seja idêntico a um nem a outro de seus genitores, mas que prolongue a ambos. Assim, há agora uma criação que se diferencia da que houve na era primordial. Em outras palavras, ao cortar o sexo de seu pai, Crono instituiu duas forças que, para os gregos, são complementares: uma que se chama Éris, a Disputa, e outra que se chama Éris, o Amor.”

Jean-Pierre Vernant, “Discórdia e amor” In: O Universo, os Deuses, os Homens – os mitos gregos contados por Jean-Pierre Vernant. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.