/Cap.32 – O inimigo número um dos hooligans – A Rainha de Chuteiras

Cap.32 – O inimigo número um dos hooligans – A Rainha de Chuteiras

Cap.32 – O inimigo número um dos hooligans – A Rainha de Chuteiras

Marcos Alvito

O inimigo número um dos hooligans

 

Menos de duas semanas depois de quase ser preso como um terrorista (ver capítulo 35 – Meu pé esquerdo), ali estava eu diante de Bryan Drew, diretor do Football Police Unit, o órgão que coordena todo o trabalho policial em jogos de futebol na Inglaterra. Drew é um cinquentão bem conservado, alto, barba grisalha bem aparada, óculos, jeitão de esportista. Na pequena sala onde ele me recebe para uma entrevista, há um armário só com troféus, flâmula do Real Madrid e muitos quepes e bonés de diversas forças policiais. Cordial, logo me oferece chá ou café. Bryan entrou na polícia de Londres em 1974. Policiava o Chelsea na década de 70, quando havia confusão em quase todos os jogos: “a brincadeira consistia nos torcedores visitantes tentarem se infiltrar na arquibancada atrás do gol onde estavam os torcedores do time da casa. Ficavam ali, quietinhos. Quando seu time eventualmente fazia um gol ou em um outro momento pré-combinado, eles se revelavam, comemorando ou gritando algo como ‘Yeah, we are amongst you!’ (Sim, estamos no meio de vocês!). E aí começava a pancadaria… a polícia tinha que brigar toda a semana.” Naquele tempo, Bryan chegou a tomar uma garrafada na cabeça por parte de um torcedor do Liverpool. Foi retirado do estádio para ser atendido, mas o ferimento não foi grave. Por uma ironia do destino, anos depois, Bryan Drew iria tornar-se o inimigo número um dos hooligans.

Quando o entrevistei, havia dezenove anos que Bryan trabalhava coordenando os esforços da polícia no sentido de ‘enfrentar a desordem relacionada ao futebol’. A FPU (Football Police Unit), chefiada por Drew e contando com cerca de 20 homens, é um órgão de gerenciamento e consulta, dedicado sobretudo ao trabalho de inteligência. Para cada um dos clubes de futebol da Inglaterra e de Gales há um Football Intelligence Officer, um policial que dedica boa parte do seu tempo a colher informações sobre os chamados “risk supporters” (torcedores de risco), ou seja, os torcedores que podem vir a criar algum problema antes, durante ou depois do jogo. Bryan explica que depois de décadas de experiência eles conseguiram classificar os torcedores em três categorias: “primeiro você tem as pessoas que nunca irão causar um problema”. Depois, “você tem uma pequena minoria que vai com o intuito de ser um problema”. E entre essas duas, “você tem um grupo de pessoas que pode se comportar de uma forma ou de outra, dependendo de quanta bebida tomaram, ou das oportunidades para bagunça no caso da polícia não estar presente…”.

O FIO (Football Intelligence Officer) de um determinado clube vai a todos os jogos, em casa e fora, fotografando, filmando, requisitando gravações do Circuito Interno de Televisão, enfim, coletando dados e provas acerca dos “torcedores de risco”. Para obter informações vale tudo, inclusive recrutar espiões dentre os grupos de hooligans, recompensando o informante com dinheiro ou com um alívio de pena. Muitas informações, porém, são voluntariamente obtidas junto aos próprios hooligans, que depois de horas bebendo no pub muitas vezes dão com a língua nos dentes, anunciando ações futuras ou vangloriando-se do que já fizeram diante do FIO.

Policial em jogo no Celtic Park, Glasgow. Foto: Gordon McCreath.

Os dados obtidos por ele ficam em um site administrado pela unidade chefiada por Drew. Digamos que o Leicester vá receber a visita do Coventry pelo campeonato da segunda divisão. Para avaliar o risco presente naquele jogo e as medidas que deverão ser tomadas, o FIO do Leicester entra no site do FPU e colhe os dados sobre os torcedores de risco do Coventry: quantos eles são, se têm agido ultimamente, se muitos deles pretendem vir a Leicester, se estão planejando alguma briga e por aí vai… Além das informações obtidas no site da FPU, ele entra em contato direto com o FIO do Coventry, que lhe passa as informações mais recentes. Além disso, o FIO viaja junto com os torcedores do clube, não somente para colher informações sobre eles, mas para ajudar seu colega de Leicester.

O relatório de cada jogo está disponível neste site, contendo informações sobre os torcedores dos 92 clubes das quatro primeiras divisões do futebol inglês. Portanto, a primeira tarefa da Football Police Unit é coordenar e disseminar toda a inteligência policial acerca dos “torcedores de risco” da Inglaterra e de Gales (a Escócia tem uma força policial independente). Eles são responsáveis pela criação daquilo que Bryan chama de National Football Intelligence Network (Rede Nacional de Inteligência relacionada ao Futebol), articulando todos aqueles envolvidos no combate à violência causada por torcedores de futebol.

Com base nessas informações, os FIOs colhem provas contra os “torcedores de risco”, aqueles sabidamente inclinados à violência. O objetivo último é reunir um conjunto de provas suficiente para afastá-los, ao menos temporariamente, dos jogos de futebol. Por exemplo: se o FIO e os outros policiais conseguirem provar que um determinado torcedor vive frequentando bares onde grupos de hooligans se reunem, foi filmado dentro do estádio cantando insultos racistas e fotografado na rua brigando com os torcedores do outro time, esse material incriminatório é levado a um juiz que emite então uma FBO (Football Banning Order), ou seja uma Ordem de Banimento do Futebol.

Movimentação da polícia inglesa fora do estádio. Foto: pretentiousartist.

Essa figura jurídica foi criada em agosto de 2000 e em março de 2008 havia mais e três mil e quinhentos torcedores submetidos a uma FBO. O banimento do futebol varia entre um mínimo de três e um máximo de dez anos. A FBO corre paralelamente ao processo criminal, ou seja: o sujeito pode ser condenado à prisão e ao mesmo tempo também receber uma FBO. Todavia, algumas vezes não há provas suficientes para uma condenação, mas há material bastante para que seja emitida uma FBO. Nove em cada dez torcedores que sofrem uma FBO praticaram violência, oito em cada dez estiveram envolvidos em atitudes racistas e um em cada sete em desordens.

Quando não há provas suficientes nem mesmo para uma FBO, o dossiê reunido pela polícia é passado para o clube, que tem o direito de probir a entrada daquele torcedor no estádio, inclusive para sempre, já que se trata de propriedade privada. Ou seja, há um verdadeiro cerco aos torcedores violentos e/ou problemáticos. Aquele que recebeu uma FBO não pode frequentar jogos de futebol, muitas vezes sendo até mesmo obrigado a ficar a uma boa distância do estádio – impedindo-o de encontrar seus parceiros em um pub, por exemplo. Além disso, é obrigado a entregar seu passaporte à polícia toda a vez que a seleção da Inglaterra viaja ao exterior. Ou seja, na prática a FBO tem a força de limitar seriamente os direitos de cidadania do indivíduo, ao menos em dias de jogo. Bryan Drew e a equipe da FPU coordenam nacionalmente as FBOs, escrevendo cartas para os recém-banidos, comunicando-lhes que têm que entregar seu passaporte, apresentar-se à polícia e por aí vai.

Bryan me explica que a legislação que permitiu as FBOs surgiu a partir do ocorrido na Euro 2000, quando a polícia da Bélgica cercou, prendeu e deportou quase mil torcedores ingleses. A UEFA, diz ele “deu um cartão amarelo às autoridades britânicas: ‘não é a primeira vez que vocês causam problemas, se isso ocorrer novamente iremos excluir a seleção e os clubes ingleses das competições européias novamente’.” O governo ficou aterrorizado com essa possibilidade. Drew explica: “Se você pensar no impacto de uma medida dessas, se o Manchester United fosse excluído da Champions League, o Liverpool, o Arsenal, o Chelsea, como é que você poderia contratar e manter Ronaldo, Drogba, Fábregas, jogadores desse porte… se você não puder participar de uma competição europeia? Você teria que vender esses jogadores. Haveria um enorme impacto econômico.”

O comportamento dos torcedores no exterior em jogos da seleção ou de clubes ainda é o calcanhar-de-Aquiles do futebol inglês. Bryan comenta que os torcedores “entendem o que acontece aqui em termos de responsabilidade e do que eles podem fazer durante um jogo de futebol”. Mas quando viajam, “alguns deles pensam que podem agir de forma diferente. Eles pensam que no exterior podem se embriagar à vontade, ofender os torcedores de outro país e atacar a polícia, pois é outro país, portanto não faz mal.” Ele acrescenta, todavia, que muitas vezes o tratamento dispensado aos torcedores ingleses por parte da polícia desses países é um fator desencadeador da violência. Ele dá um exemplo. Semanas antes o Everton jogara contra a Fiorentina em Florença. Quando os torcedores do clube inglês chegaram, verificou-se que alguns deles não tinham ingressos ou tinham ingressos para a parte do estádio que for a reservada à torcida do Fiorentina. Esses torcedores foram literalmente cercados pela polícia de choque italiana, que impediu a sua movimentação e não fez qualquer tentativa de se comunicar com os torcedores. À medida em que o tempo ia passando, o clima de guerra e a falta de comunicação foram se somando à frustração de não poderem entrar no estádio nem tampouco sairem dali. Quer dizer, a polícia italiana estava praticamente criando um barril de pólvora. Tudo se resolveu quando a polícia aceitou colocar um telão para que aqueles torcedores pudessem assistir à partida. Ele diz que torcedores de outros países até se surpreendem com o tratamento que recebem na Inglaterra, onde os policiais costumam falar e dirigir-se com naturalidade aos torcedores.

Torcedor holandês esconde o rosto. Foto: Timo On Tour.

No caso inglês, ele acha que as FBOs foram decisivas, porque reduziram e impediram boa parte da violência relacionada ao futebol, influenciaram o comportamento dos torcedores e isolaram a minoria de causadores de problemas. A prova disso é que o número de prisões em jogos de futebol tem diminuído consistentemente nos últimos anos. As FBOs, contudo, só funcionaram, na opinião de Bryan, por terem sido utilizadas como parte de uma estratégia coordenada que envolve os clubes de futebol, a polícia e o sistema judiciário.

Cada clube é o responsável pela segurança das suas instalações, que devem respeitar uma legislação que estabelece normas visando garantir o conforto e sobretudo a integridade física dos torcedores. Os clubes das quatro primeiras divisões são obrigados a ter sistemas eletrônicos que monitoram a entrada dos torcedores, mostrando se um setor do estádio está perto de alcançar a sua capacidade máxima, se ainda há muita gente do lado de fora faltando pouco tempo para o pontapé inicial, enfim: proporcionando informações fundamentais em termos da segurança do público que veio assistir ao jogo. Em todos os estádios há sistemas de Circuito Interno de Televisão, com câmeras dentro e fora do estádio, não somente para vigiar os torcedores, mas também para detectar possíveis problemas de segurança: um engarrafamento nas vias de acesso ao estádio, um portão de entrada superlotado, o início de um incêndio, um acidente de qualquer natureza. Todo esse aparato é dirigido a partir da Torre de Controle, onde ficam funcionários do clube, policiais e o pessoal responsável pela equipe médica e pelas ambulâncias. Tudo que ocorre no interior do estádio é responsabilidade do Safety Officer do clube. É ele quem coordena todos os recursos, toma as decisões mais importantes em situações normais ou excepcionais, impede a entrada de determinados torcedores ou ordena que sejam expulsos do estádio. Ali dentro, é ele quem manda.

O principal recurso de que dispõe o Safety Officer são os stewards. Eles são os olhos, os ouvidos, a boca e os braços do Safety Officer. Os stewards podem ser contratados diretamente pelo clube ou junto a firmas especializadas. Em clubes como o Arsenal, há até 800 stewards trabalhando em um jogo. Eles orientam toda a movimentação dos torcedores, indicando os lugares onde devem se sentar, alertando quanto a comportamentos impróprios como fumar, beber ou ficar de pé durante muito tempo. Eles advertem o torcedor e podem inclusive retirá-lo do estádio ou, em casos mais graves, entregá-lo à polícia para que seja efetuada uma prisão. Os stewards revistam determinados torcedores assim que entram no estádio, examinam mochilas e bolsas, impedem que os torcedores invadam o campo e alertam a torre de controle quanto a qualquer problema que esteja ocorrendo. Esses stewards são treinados, tendo que completar dez módulos em um total de centenas de horas, um processo que leva pelo menos um ano e meio. Mesmo os stewards contratados por companhias especializadas têm que ser qualificados.

A polícia não treina os stewards, diz Bryan, mas assessora o treinamento no sentido de orientar quanto àquilo que a lei permite ou não que seja feito pelos stewards. Ele diz que a questão principal é ensinar aos stewards que a sua ação tem que ser proporcional aos riscos com que estão lidando, usando a força somente nos casos previstos pela legislação. Para ele a principal qualidade de um steward deve ser sua capacidade de comunicação. “A boa comunicação pode resolver o problema antes dele complicar-se: a habilidade de se dirigir às pessoas de forma equilibrada, interagindo com os torcedores para acalmá-los.” Nem todos os stewards, aliás, são treinados para lidar com situações de conflito, somente aqueles que chegam até a fase final do treinamento. Mesmo esses, só agem em casos de menor gravidade, quando não há força policial presente ou antes que ela possa entrar em ação.

Policial monitora torcedores em estádio da Inglaterra. Foto: West Midlands Police.

O uso de stewards permite diminuir o número de policiais no interior do estádio. Isso por um motivo muito simples: do lado de fora a polícia está preservando a ordem pública, portanto o clube não tem que pagar pelo emprego dos policiais que ficam nas imediações. Mas o clube tem que pagar por cada policial presente no interior do estádio, pois este é uma área privada, onde ocorre um espetáculo visando o lucro. Como o custo de um steward é pelo menos três vezes menor do que o de um policial (pago de acordo com a sua qualificação e o seu posto), é claro que os clubes procuram manter o menor número possível de policiais dentro de suas instalações. Mas quem avalia o número de policiais necessário são as autoridades policiais, isto depois de se reunirem com o Safety Officer do clube para avaliarem o grau de risco de cada jogo. Uma vez tomada a decisão, porém, o clube tem que empregar o número de policiais estabelecido pela polícia e pagar segundo uma tabela. Bryan me explica que essa tabela varia de acordo com a força policial local, o que às vezes gera problemas, com eventuais reclamações quanto ao custo do policiamento. O Wigan, por exemplo, foi aos tribunais contra a polícia da região de Manchester para tentar diminuir os custos do policiamento.

Na verdade, os chefes de polícia também estão interessados em empregar o menor número possível dos seus homens em jogos de futebol, pois cada policial colocado dentro ou fora do estádio deixa de estar nas ruas prestando serviços à comunidade. Algumas forças policiais tentam lidar com esse problema empregando seus homens em dias supostamente de descanso, pagando horas-extras por isso. De qualquer forma, na temporada 2006-7, não foi preciso a presença de policiais em 43% dos jogos das quatro primeiras divisões.

Para Bryan Drew, a diminuição da violência relacionada ao futebol deve-se a uma série de fatores, que vão além das medidas de vigilância e de punição. Depois da tragédia de Hillsborough, em 1989, quando 96 torcedores do Liverpool morreram esmagados durante uma semifinal da Copa da Inglaterra, a ênfase anterior na manutenção da ordem pública ficou em segundo plano diante da questão da segurança. Naquela ocasião, as forças policiais estavam tão preocupadas com uma possível invasão de campo ou com incidentes violentos que não perceberam a superlotação fatal de duas áreas localizadas atrás do gol, totalmente cercadas por grades. Os terríveis fatos ocorridos em Hillsborough teriam funcionado como um elemento catalisador para uma mudança de mentalidade no futebol inglês: “Quando você vê pessoas morrerem, muitas pessoas, não somente uma ou duas, o que já é ruim o bastante, isso muda a percepção de muita gente.”

Banner de torcedores do Liverpool com o nome das pessoas completando 20 anos da tragédia em 2009. Foto: Linksfuss – Wikipédia.

Taylor Report, em suas duas versões, publicadas em 1989 e 1990, sugeriu uma série de mudanças que iriam revolucionar o futebol inglês. Foram retiradas as grades que enjaulavam os torcedores e que por vezes viravam armadilhas fatais. Nas duas primeiras divisões, foram abolidos os terraces onde os torcedores assistiam aos jogos em pé e os estádios passaram a só ter lugares sentados. Do ponto de vista policial essa mudança foi essencial, na opinião de Drew: “se hoje você quiser ir a um campo de futebol e praticar violência você pode, mas você não pode fugir e se esconder com a mesma facilidade, você não tem a liberdade de movimento e o anonimato de uma área em que todos estão de pé, onde você pode se misturar e se esconder. Agora você vai ser visto porque uma câmera vai te filmar ou um policial ou um steward vão te ver, portanto se você quiser brigar dentro de um estádio você pode, mas há uma grande chance de que você seja identificado e sofra uma sanção”.

Drew acha que a postura da polícia também mudou, a segurança dos torcedores passou a predominar sobre as preocupações com a ordem pública e a violência. Os torcedores deixaram de ser tratados pelos clubes e pela polícia como animais. Agora gozando de mais conforto e respeito em estádios modernos, os torcedores melhoraram de comportamento. Ele admite que o aumento significativo no preço dos ingressos modificou o perfil dos torcedores, afastando os mais pobres e atraindo o público de classe média, de uma forma geral mais bem comportado (e silencioso). Seja lá como for, sublinha Drew, “a despeito das críticas dos jornais, o fato é que agora muitos torcedores não querem brigas, violência ou racismo, não é para isso que eles vão aos jogos. Se você vai ao futebol com o seu filho, ou filha, ou amigo, você não está a fim de ficar sentado ao lado de alguém gritando insultos racistas no seu ouvido, ou arremessando coisas, ou querendo brigar com todo mundo”.

Parte do trabalho da FPU, aliás, consiste em ouvir as reivindicações dos torcedores em relação à polícia. A cada dois meses ele se reúne com representantes da Football Supporters Association (Associação dos Torcedores de Futebol), um órgão que representa os torcedores de futebol a nível nacional. É um fórum que permite aos torcedores fazerem críticas e reivindicações, ao mesmo tempo em que Bryan Drew pode tentar esclarecer os objetivos e os procedimentos da polícia durante os jogos de futebol. É ao mesmo tempo uma questão de relações públicas e de aperfeiçoamento das práticas policiais.

Apesar de toda essa melhora, Drew alerta que ainda há grupos de hooligans em atividade e, pior do que isso, há também grupos ainda recrutando jovens. Estes jovens são considerados por Drew como até mais perigosos do que os hooligans de antigamente: “havia quase que um código de honra entre os hooligans no passado, eles não atacavam todo mundo, só atacavam aqueles que queriam brigar com eles, eventualmente atacando a polícia ou ferindo um ou outro torcedor que estivesse no caminho deles.” Bryan Drew alega que os relatos que possui acerca desses “novos” hooligans dizem que “eles não respeitam nada, nem ninguém”, o que refletiria um problema mais amplo existente na sociedade inglesa de hoje, às voltas com a violência em geral praticada por grupos de jovens. Embora hoje em dia o problema do hooliganismo esteja sob controle, ele acha que o risco é o governo inglês achar que já está tudo resolvido, parar de tomar as medidas necessárias e de apoiar órgãos como o Football Police Unit.

Faço ainda uma última pergunta: depois de tantos anos lidando com os problemas do futebol, indago se ele ainda gosta do futebol como um torcedor. A resposta surpreende: “No meu tempo fui juiz de futebol, dirigi um clube de futebol juvenil por 15 anos e era técnico de um time infantil até as responsabilidades me impedirem de continuar”. Torcia pelo Wimbledon, um clube perto de Londres. Mas depois que o clube foi transferido para Milton Keynes e mudou de nome para MK Dons ele perdeu o interesse. Até apoiou os outros torcedores na criação do time alternativo, o AFC Wimbledon, mas já não era a mesma coisa… o torcedor Bryan Drew foi vítima de algumas das mudanças no futebol inglês que tanto favoreceram o policial Bryan Drew.

Antes de nos despedirmos, Bryan me promete que vai entrar em contato com algumas forças policiais para que eu possa ver tudo aquilo na prática, ou seja, para que eu pudesse ir a um jogo junto com a polícia. Como foi? Cenas dos próximos capítulos…