/Cap.34 – Toon Army – A Rainha de Chuteiras

Cap.34 – Toon Army – A Rainha de Chuteiras

 

Cap.34 – Toon Army – A Rainha de Chuteiras

Marcos Alvito

Toon Army

O Rio Tyne é a primeira coisa que se vê quando se chega de trem a Newcastle. Na verdade, o nome completo é Newcastle upon Tyne, Newcastle sobre o Tyne, o que faz justiça à importância do rio na história desta cidade, que já foi um centro mundial de construção e reparo de navios. Além dessa indústria, Newcastle era um importante porto de saída do carvão produzido no norte da Inglaterra. Portanto não é de se espantar que ela tenha se tornado uma potência econômica durante a Revolução Industrial. Mas os estaleiros fecharam e a indústria do carvão não existe mais. Hoje em dia Newcastle e seus duzentos e sessenta mil habitantes sobrevivem do setor de serviços. Embora as riquezas da época vitoriana ainda estejam presentes nos belos e imponentes prédios do centro, a cidade é sobretudo conhecida por seu time de futebol, o Newcastle United, ou The Toon, cuja apaixonada torcida é chamada de Toon Army. O nome Toon vem da palavra town (cidade), pronunciada no característico sotaque geordie do extremo nordeste da Inglaterra.

Newcastle upon Tyne. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

A paixão pelo futebol sempre foi uma característica das cidades do norte da Inglaterra, como Manchester, Sheffield e Liverpool, onde a multiplicação das fábricas andou lado a lado com a formação de clubes de futebol. Newcastle, embora pertença a este grupo, é um caso extremo em vários sentidos. Seus torcedores são famosos por serem os mais fanáticos da Inglaterra. Historicamente o clube sempre lotou seu estádio, “na alegria e na tristeza”: chegou a ter uma média de público de mais de 50 mil torcedores na 2a. divisão! E a última vez que o clube ganhou um campeonato da liga foi há mais de 80 anos, em 1927. Em 2007 uma pesquisa afirmou que os torcedores do clube eram os mais dedicados do país. Essa fidelidade ao time de camisas preto e brancas de listras verticais, em parte se explica pelo fato do Newcastle ser o único time da cidade. Aqui a identificação entre os habitantes e o clube é total, o próprio apelido The Toon (A Cidade) indica isso.

Andando pelas ruas algumas horas antes do jogo se percebe que o The Toon é uma obsessão. Na verdade, já no trem que peguei de manhã cedinho eu pude observar isso. Havia vários grupos devidamente uniformizados. Um deles era composto por quatro rapazes que às nove da manhã tomavam um desjejum que consistia em latas e mais latas de cerveja. Um desses torcedores estava vindo de Nottingham e me garantiu que a “atmosfera” no estádio de Saint James Park era a melhor do mundo. Sua família era de Newcastle e mesmo não vivendo mais lá ele continua fiel ao clube. Há várias formas de paixão. Também uniformizada, uma mocinha japonesa, que como eu enfrentara cinco horas de viagem desde Oxford, tinha um motivo menos tradicional: veio ver o camisa dez Michael Owen.

Achar o estádio não foi tarefa difícil. Ele está tão no centro da cidade, a apenas dez minutos da estação de trem, que seria impossível não notar a estrutura metálica branca alçando-se por cima dos prédios comerciais. O Newcastle United joga ali desde 1892, quando foi criado a partir de uma fusão de dois clubes. Depois de muitas reformas, ainda hoje é o terceiro maior estádio da Inglaterra, com capacidade para 52 mil espectadores, só perdendo para Old Trafford e para o novo estádio do Arsenal (Emirates Stadium).

Como ainda estava cedo, dou meu passeio habitual em torno do estádio, cuja arquitetura meio abrutalhada, do lado de fora me lembra por algum motivo uma usina nuclear. Da mesma forma que outros estádios de grandes clubes, é meio shopping também. Tem uma megastore de dois andares, o primeiro dos quais só vende camisas. No segundo andar, além do DVD com a última grande conquista – a FA Cup de 1955 – é possível adquirir uma cesta de roupa suja com as cores e o escudo do clube, uma associação de ideias que achei no mínimo de gosto duvidoso. Claro que a fila no caixa era grande. Quem quiser também pode encomendar pelo correio: o catálogo com as mercadorias “oficiais” do clube tem setenta e duas páginas e centenas de produtos variados, inclusive dez tipos diferentes de ursinhos de pelúcia nas cores do Newcastle. Ali perto, apropriadamente, havia um caixa eletrônico para tirar dinheiro.

A megastore do clube. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Durante a década de 90, o nordeste da Inglaterra atravessou sérias dificuldades econômicas geradas pelo processo de desindustrialização. A região sofria com altos índices de desemprego. Mas o Toon Army nunca deixou de apoiar incondicionalmente o Newcastle. Até demais. Entre 1991 e 1996, o valor dos ingressos triplicou. Além de construírem setenta boxes executivos, foram criadas áreas “vip” no estádio, como o Platinum Club, cujo season-ticket (com direito a comida) foi lançado ao custo de três mil libras (aproximadamente dez mil reais) no início da década de 1990. Hoje em dia custam o dobro. Em 1994, obrigaram os torcedores interessados em obter um season-ticket a comprarem quinhentas libras (1.675 reais) de bonds (títulos de dívida) para financiar as reformas no estádio. Enquanto no West Ham a torcida revoltou-se e barrou um esquema semelhante, em Newcastle quase dez mil pessoas aderiram, muitas delas pagando com um empréstimo fornecido pelo próprio clube com escorchantes juros de 22% ao ano.

É claro que esse processo alijou muitos torcedores. O sociólogo John Williams fez uma série de entrevistas com torcedores do Newcastle no final da década de 90. A turma incluía um motorista-de-ônibus, um eletricista, um enfermeiro, um operário e três desempregados. Muitos deles costumavam comparecer a todos os jogos do clube, mas deixaram de ir após as mudanças ocorridas na segunda metade da década de 1990. Passaram a ver os jogos no pub, onde tentam recriar a atmosfera anterior. Primeiramente, os ingressos se tornaram mais difíceis de obter e muito mais caros. Antes bastava ficar horas na fila, não era preciso comprar bonds. Outro fator que os afastou do estádio foi a nova política de controle dos torcedores. Em A Very English Game, Paul, o motorista-de-ônibus, conta a Williams que não se podia nem mais celebrar um gol em paz:

“Quer dizer, assim, lá [Saint James Park] agora você começa a gritar e logo é banido [do estádio]. Alguns anos atrás eu estava sentado com meus camaradas e de repente nós todos estavamos pulando, o Newcastle havia marcado. Logo aparecem os stewards dizendo para pararmos com aquilo pois estavamos celebrando demais. Nós estavamos celebrando demais um gol! Nós estavamos apenas nos nossos assentos pulando pra cima e pra baixo e nos abraçando. ‘Sentem-se e voltem para seus lugares’. Parece brincadeira. Mas você não pode reclamar se não te expulsam na hora. Eles têm trinta mil pessoas na lista de espera por um season-ticket então há muita gente pra tomar o seu lugar.”

Tudo isso fazia parte de uma estratégia de mercado. Em 1997, no mesmo ano em que Williams entrevistava Paul e seus amigos, o Newcastle tornou-se uma sociedade anônima cotada na Bolsa de Valores. John Hall, o empresário que anos antes comprara a maioria das shares por cerca de três milhões de libras (aproximadamente 10 milhões de reais), fez mais de 100 milhões de libras (335 milhões de reais) de lucro quando as ações foram lançadas em Londres. Foi um negócio tão lucrativo que os corretores vestiam camisas do clube no dia. Havia um prospecto divulgando o Newcastle United Plc. Plc significa public limited company, o que no Brasil é chamado de sociedade anônima. O folheto dizia: “O Newcastle United é um dos maiores negócios futebolísticos do Reino Unido. Ele gera recursos de qualidade através da venda dos direitos televisivos para os seus jogos e da venda de uma série de produtos com a sua marca.” O mesmo documento, assinalava entre os pontos-chave da nova companhia “o tamanho e a lealdade da sua base de torcedores, que garante grandes públicos”. A Bolsa de Londres e seus investidores podiam ficar tranquilos.

Cadeirantes dispõem de um ótimo lugar para assistir ao jogo. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Em julho de 2007 o clube deixou de ser uma sociedade anônima e voltou a ser uma companhia limitada (sem ações na Bolsa), quando a totalidade das ações foi comprada por Mike Ashley por 134 milhões de libras (449 milhões de reais). Ashley controla a Sports Direct International Plc, um grupo com vários negócios no ramo do esporte, incluindo várias cadeias de lojas de material esportivo. Às vezes ele aparece para os jogos devidamente uniformizado, como se fosse um torcedor comum e não o dono de uma fortuna de quase dois bilhões de libras (6 bilhões e 700 milhões de reais). Poucos meses depois de comprar o clube, assistiu ao clássico contra o Sunderland – no estádio deste último – em meio aos torcedores do Newcastle. No intervalo foi impedido pelos stewards de pagar uma rodada de cerveja pra todo mundo. Ashley parece ter mesmo dinheiro sobrando, pois comprou um clube que àquela altura tinha uma dívida de 80 milhões de libras (268 milhões de reais).

Continuando meu passeio pela área comercial do estádio, ao lado da megastore, há um bar temático batizado com o nome do maior artilheiro da história do clube, Alan Shearer. Nos dois andares, a turma de camisa listrada bebia sua cerveja e acompanhava dois jogos pelos vários telões: Arsenal e Liverpool (terminou um a um) e a semifinal da Copa da Inglaterra entre West Bromwich Albion e Portsmouth (ganha pelo último por um a zero). Havia uma corajosa família de torcedores do Reading, o adversário daquele sábado, devidamente trajada nas cores azul e branca do clube do sul da Inglaterra. Cada pint de cerveja bebido no bar dava direito a uma raspadinha cujo primeiro prêmio era um season-ticket e o segundo uma camisa do Newcastle. A propaganda estava afixada junto aos mictórios.

O bom e velho jogo aéreo. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

O jogo daquela tarde era crucial para ambas as equipes. O Reading estava a apenas três pontos de distância do abismo do rebaixamento e o Newcastle em uma posição um pouco mais confortável, mas não totalmente segura, em 12o. lugar, precisando de mais duas vitórias para garantir a permanência na Premier League. O Reading estava em queda livre: perdera os dois últimos jogos. O The Toon estava renascendo das cinzas: depois de treze jogos sem vencer, havia conseguido duas vitórias sobre times londrinos: dois a zero sobre o Fulham e um espetacular quatro a um sobre o Tottenham, de virada. Embora nem mesmo o fantasma do rebaixamento estivesse totalmente afastado, a “nação geordie” já estava pensando subir na tabela feito foguete e em conseguir a classificação para uma das competições europeias.

O motivo para esse otimismo incontrolável estava estampado nas camisas com a inscrição “King Kev” e o número 1 às costas à venda na loja do clube por quarenta libras (134 reais). O “Rei” em questão é Kevin Keegan, atual técnico do Newcastle. Keegan, um excepcional atacante e goleador que fez carreira no lendário Liverpool de Bill Shankly, chegou a ser escolhido o melhor jogador da Europa em 1976, 1978 e 1979. Em 1982, dois anos antes de pendurar as chuteiras, ele se transferiu para o Newcastle, ajudando a equipe a subir novamente para a primeira divisão em 1983 e ganhando a eterna gratidão do Toon Army. Sua contratação só fora possível graças a um pacote publicitário que obrigava Keegan a fazer propaganda de um produto que ele não consumia: cerveja. Com sua figura diminuta mas elegante e vastos cabelos negros encaracolados, Keegan explorou ao máximo as oportunidades comerciais proporcionadas pela importância crescente da televisão no futebol inglês.

Um rei baixinho gordinho e adorado – King Kev. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Depois de sete anos de aposentadoria jogando golfe e indo à praia em Marbella, Keegan retornou ao Newcastle em 1992, desta vez como técnico. Na primeira temporada, salva o time de uma inédita e impensável queda para a terceira divisão. Na temporada seguinte, consegue trazer o Newcastle novamente para a primeira divisão, agora a turbinada e milionária Premiership. A filosofia de Keegan era atraente, pois sua equipe jogava um um futebol ofensivo e bonito de se ver, embora ele não tenha conseguido obter o título que vem escapando do Newcastle desde a época em que se amarrava cachorro com linguiça.

Na temporada 2007-8, depois de um desastroso início sob o comando de Sam Allardyce, um técnico estilo sargentão adepto de um futebol defensivo e brutal, a “nação geordie”, em pânico, buscava um salvador. King Kev, mais uma vez, abandonou sua agradável aposentadoria – as más línguas dizem que o dinheiro estava acabando – para mais uma vez vir resgatar o Toon Army. Só que os tempos são outros e hoje o desequilíbrio entre as equipes no futebol inglês é colossal. No primeiro jogo com King Kev liderando a tropa, o Newcastle foi cruelmente destroçado pelo Manchester United por seis a zero. Os fiéis torcedores tiveram que esperar dois meses e dez dias até a vitória já referida sobre o Fulham.

Quem visse as hordas de torcedores do time da casa cercando Saint James Park uma hora antes da partida contra o Reading pensaria que a equipe estava liderando o campeonato. Duas vitórias haviam bastado para restabelecer a fé em King Kev e seus comandados. Quando entrei no estádio fiquei surpreso com a bela estrutura de metal e vidro do teto que brilhava em uma preciosa tarde ensolarada. Apesar da falta de simetria causada por uma série de reformas parciais ao longo de décadas, é decerto uma arena digna da paixão dos seus torcedores. O programa do jogo (três libras, cerca de dez reais), lembrava que por módicas 999 libras (cerca de 3.300 reais) uma equipe de 15 jogadores poderia disputar uma partida no gramado do Saint James Park, salientando: “se vocês não tiverem um adversário nós podemos arranjar um para vocês”.

Por dentro, a bela arquitetura do estádio. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Antes do jogo começar, o sistema de som inundava o estádio com U2 a todo o volume: In the name of love. Antes dos times entrarem em campo, o habitual toque épico: Carmina Burana. No East Stand, torcedores desfraldam um bandeirão com o escudo do clube e as inscrições “TOON ARMY – NEWCASTLE UNITED”. Em campo não há apenas um, mas sim dois mascotes felpudos, um casal de Magpies, pássaros preto e brancos que simbolizam o Newcastle. Parece uma mensagem sob medida para um público cada vez mais “família”. Uma placa ao redor do campo anuncia um cassino virtual que incorpora o apelido do time www.tooncasino.com. Mesmo depois da bola rolar, os alto-falantes ainda lembravam qual era a “boa” : Michael Owen marcando o primeiro gol estava pagando 5 por 1.

Tooncassino ponto com. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Owen era um dos três atacantes escalados por Kevin Keegan, em uma tática ofensiva rara na Premier League. Quando dá certo é uma maravilha. Para sorte minha e alegria do barulhento e animado Toon Army, foi o que aconteceu naquela partida. O Reading até que tentou estragar a festa, pelo menos até tomar o primeiro gol, antes dos vinte minutos. O trio ofensivo escalado por King Kev funcionou bem. O nigeriano Obafemi Martins, que abriu o placar depois de bela jogada dentro da área, lutava incansavelmente pela bola, correndo mais do que coelhinho de desenho animado e sempre buscando o gol. A forma física dele é tão exuberante que costuma comemorar os gols dando saltos mortais.

Obafemi faz o primeiro gol do Newcastle. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Michael Owen, embora não seja mais o jogador de antes, preserva a lucidez dos grandes jogadores, com bons passes e senso de jogo. O australiano Mark Viduka, lento e pesadão, destoava tecnicamente dos seus dois parceiros de ataque mas preenchia a função essencial de pivô, segurando os zagueiros para que Owen e Martins tivessem mais espaço. Em suma, ele entrava com o corpo, Owen com a categoria e Martins com a velocidade e a incisão. O meio de campo também estava bem organizado, com um veterano que sabia distribuir o jogo (Nick Butt) e o jovem Joey Burton puxando com rapidez os contra-ataques.

Desde o início do jogo, muito antes da bola de Martins estufar a rede, o Toon Army dava o seu apoio incondicional, aplaudindo até lateral. Como sempre, o setor mais entusiasmado era também o de ingressos mais baratos, atrás do gol e bem lá no alto. Ali ficava uma turma de jovens que assistiu ao jogo de pé do início ao fim. Eles cantavam sem parar com um sotaque inconfundível: “Niu-cas-tou, Niu-cas-tou, Niu-cas-tou”. Entre eles e a torcida do Reading havia stewards e policiais, cada vez em maior número à medida em que o Toon Army ia se entusiasmando com o resultado. Logo a polícia tira uns três ou quatro da arquibancada, sob vaias da rapaziada.

A alegria do Toon Army. Foto: Marcos alvito (arquivo pessoal).

Eu assistia tudo aquilo de longe. Eu havia comprado meu ingresso pela Internet. Infelizmente só havia lugar disponível para um setor “vip” (Milburn Stand). As quarenta e cinco libras (cerca de 150 reais) davam acesso ao Black & White Room, uma sala de estar atapetada, com bar e televisão. Aqui a média de idade era bem alta e pelo preço só podiam ser de classe média. Fiquei pouco tempo ali, preferi tomar meu lugar no Milburn Stand. É claro que essa área do estádio, com suas confortáveis poltronas acolchoadas, era uma das mais silenciosas e passivas do estádio. Era notável o contraste com a turma de jovens encarapitados no alto da arquibancada atrás do gol.

Era desse setor, totalmente cercado e vigiado, que começava o coro de Keeeee-gan, Keeeee-gan, dirigido a um barrigudinho senhor de cabelos totalmente brancos sentado no banco do Newcastle. Bem ao lado, a pacífica e conformada torcida do Reading tinha que aturar a turma de preto e branco fazendo gestos na sua direção, abrindo os braços em “V” e entoando uma habitual gozação:

“Are you Sunderland?
Are you Sunderland?
Are you Sunderland in Disguise?”

(Vocês são o Sunderland [principal rival do Newcastle]?
Vocês são o Sunderland?
Vocês são o Sunderland disfarçado?)

Depois de Owen fazer o segundo gol em um lance de oportunismo, a galera não parou mais de exaltar Sua Majestade.

Owen marca o segundo gol do Newcastle. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Cantavam assim:

“Kevin Keegan,
Kevin Keegan,
I’ll sing you a song
There’s only one Kevin Keegan…”

(Kevin Keegan,
Kevin Keegan,
Vou te cantar uma canção,
Só há um Kevin Keegan)

Policiais entre os torcedores do Reading à esquerda e os do Newcastle à direita. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Infelizmente não entendi o resto da letra, por conta do anasalado sotaque geordie. Tentei perguntar a uma moça sentada ao meu lado o que eles estavam cantando, mas ela, rindo, disse ser escocesa e que também não estava conseguindo entender nada.

No intervalo, o DJ ataca de Bob Dylan, Positevely Fourth Street. Bom gosto. O segundo tempo foi um passeio. Até Viduka fez gol, completando o três a zero. O Reading não dava nenhum trabalho à defesa do Newcastle, onde jogava o brasileiro Cláudio Caçapa. Keegan começa a poupar os titulares e o Toon Army levanta e aplaude fervorosamente de pé cada um dos três substituídos. O jogo termina com o Newcastle tocando a bola e a galera gritando olé. Local Hero (Dire Straits) encerra a programação musical estilo classic rock, decerto apropriada para um público meio coroa.

Torcendo com as mãos. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Lá fora, a massa de branco e preto que tomava as ruas ia para casa satisfeita. Um cartaz envidraçado com a foto de um sorridente King Kev anunciava:

EMOÇÃO
EXCITAÇÃO
PAIXÃO
Grátis com cada lugar
Compre aqui o seu ingresso para ver o
NEWCASTLE UNITED

O cartaz prometendo emoção. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).