/Cap.33 – Um a zero para os amantes de ovelhas – A Rainha de Chuteiras

Cap.33 – Um a zero para os amantes de ovelhas – A Rainha de Chuteiras

Cap.33 – Um a zero para os amantes de ovelhas – A Rainha de Chuteiras

Marcos Alvito

 

Um a zero para os amantes de ovelhas

 

“Ninguém gosta da gente”, me explica um rechonchudo e ruivo torcedor do Cardiff City, “porque nós somos galeses”. Era uma típica tarde de primavera: céu cinzento, uma chuvinha fina mas insistente e um frio que ameaçava congelar os dedos da minha mão, mesmo protegidos por luvas. Eu estava no Ninian Park, estádio do Cardiff City, o mais importante time de Gales, naquele momento disputando a Championship. É isso mesmo: um time de Gales disputando a 2a. divisão inglesa. Embora exista um campeonato galês, os times mais poderosos de Gales disputam os campeonatos ingleses: além do Cardiff City, o Swansea City disputava a League One (3a. divisão) e o Wrexham a League Two (4a. Divisão). Destes três, o Cardiff City é o mais tradicional, o único que ganhou uma das competições mais importantes da Inglaterra: a FA Cup. Mas isso foi em 1927!

Eu fui até lá porque o clube estava vivendo um momento mágico: dali a uma semana eles iriam disputar a semifinal da FA Cup em Londres, pela primeira vez em muitas décadas. A venda de ingressos começara na semana anterior e houve gente que dormiu na fila. Trinta e três mil pessoas, o equivalente a dez por cento da população de Cardiff, compraram seu bilhete para o sonho de ganhar novamente a FA Cup. Dentro do estádio, um torcedor bem coroa com um boné celebrando a conquista de 1927 me diz na maior felicidade do mundo: “Eu sou torcedor desse time há 41 anos e nunca fui a Wembley. Já comprei o ingresso para a família toda, reservei hotel, depois do jogo vamos passar o fim de semana em Londres”.

Na verdade, o esporte mais importante em Gales é o rugby e o país vivia uma lua-de-mel com a seleção nacional, que no mês anterior conquistara o torneio Six Nations 2008 de forma invicta, derrotando os ingleses em Londres, de virada ainda por cima. No mercado central da cidade, um típico prédio vitoriano de meados do século XIX, havia muitas camisas à venda celebrando a conquista da bola oval. Até na loja do clube, no centro da cidade, lado a lado com camisas, bandeiras, bonés e tudo o mais celebrando com antecedência a semifinal da FA Cup, havia muita coisa à venda referente à conquista do torneio de rugby. Na loja para turistas, em frente ao Cardiff Castle, uma camisa vermelha ostentava os dez mandamentos do galês: o 5o. era tão simplesmente “amar o rugby”, que vinha antes até de “Não seja muito amigo dos ingleses”. Não havia nenhum mandamento fazendo menção ao futebol.

Rua do centro de Cardiff. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Mas naquele dia eu estava na capital de Gales para ver os Bluebirds enfrentarem o Southampton pelo campeonato de futebol da 2a. divisão. O adversário do Cardiff é um time bastante tradicional na Inglaterra e três temporadas atrás estava disputando a Premier League. Só que naquele momento os Saints – assim chamados por terem se originado de um time de igreja – estavam correndo o perigo de serem tragicamente rebaixados para a 3a. divisão. O Cardiff estava no meio da tabela, sem ameaça de rebaixamento mas também sem muita chance de subir para a milionária Premier League. Aquele jogo era um alegre aquecimento para a gloriosa semifinal contra o Barnsley.

Ninguém poderia apostar que o Cardiff estaria naquela posição no final de março de 2008. Durante a temporada o time sofreu com problemas financeiros que ameaçaram levar o clube para a “administração” – uma espécie de falência gerida pelas autoridades do futebol – com a consequente perda de pontos. Com isso, o time não pode contratar reforços durante a janela de transferência de janeiro e ficou ameaçado de perder jogadores. O Ninian Park, para 22 mil pessoas, reflete essa situação de penúria financeira. Há um ar de abandono nas bilheterias e nas áreas internas. Os banheiros ficam em containers improvisados e o único “conforto” é uma televisão de tamanho médio passando videotapes dos últimos jogos do Cardiff e os resultados da rodada em andamento. Até a loja do clube é modesta e acanhada se comparada a de outros times da mesma divisão.

Mas esse estádio decadente ainda tem algo que nenhum outro estádio da Championship possui mais: terraces. Seis mil lugares são para torcedores de pé. Por mais de um século, até o início dos anos 90, os terraces foram o lugar mais quente dos estádios ingleses – em sentido figurado, pois na maioria das vezes eram descobertos, expondo os torcedores ao frio, ao vento, à chuva e, eventualmente, à neve. Normalmente localizados atrás do gol em ambos os lados do campo, os terraces proporcionavam ingresso barato e uma sociabilidade intensa a seus frequentadores. A partir da década de 1960, eram frequentados sobretudo por jovens, que viajavam em grupo até o estádio e faziam dos terraces um espaço de manifestação e auto-reconhecimento de uma cultura juvenil em ebulição. Os terraces serviram de palco às expressões de estilo locais: roupas, cortes de cabelo, canções. Logo aqueles grupos de jovens começam a tentar invadir o terrace onde ficava a torcida adversária. De início simplesmente davam a volta na arquibancada e atacavam o outro lado. Quando a polícia começou a separar os dois lados e os clubes começaram a cercar os terraces, o pessoal que gostava de brigar mudou de tática. Passaram a infiltravar-se na área dos torcedores do outro time. Ficavam ali quietinhos e de repente revelavam sua identidade quando seu time fazia um gol ou em outro momento pré-combinado. É claro que saía muita briga e foi a partir destes episódios que o hooliganismo virou uma questão nacional no final da década de 1960.

Os famosos terraces ainda sem torcedores. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Ir nos terraces, mesmo para quem só queria assistir ao jogo, já era uma aventura: era preciso saber se proteger em uma multidão sempre em movimento, reagindo com furor ao gol do seu time ou a uma bola na trave. Ao fim do jogo era comum encontrar um par de óculos pisoteados, um molho de chaves ou um único pé de sapato. Superlotados em jogos importantes, os terraces foram palco de acidentes fatais como o ocorrido em Bolton na década de 1940 ou na triste tragédia de Hillsborough em 1989, em que 95 torcedores do Liverpool morreram esmagados. Após esse desastre, Peter Taylor, o magistrado encarregado de fazer um relatório sobre o incidente contendo recomendações, propôs que os terraces fossem abolidos e substituídos por estádios somente com assentos e lugares marcados. Isso é obrigatório para times das duas primeiras divisões inglesas.

O Ninian Park, construído em 1910, ainda tem terraces atrás de um dos gols e em uma das arquibancadas laterais. O Grange End, atrás do gol, é o lugar tradicional dos torcedores mais fanáticos dos Bluebirds. Acontece que é também no Grange End que fica a torcida adversária, separada por cercas de metal que criam uma área neutra onde ficam stewards e eventualmente policiais. Aparentemente, aquele seria um jogo tranquilo, pois não havia nenhuma rivalidade especial entre o Cardiff City e o Southampton. Exceto, é claro, a velha questão entre Gales e Inglaterra.

Gales pertence atualmente ao Reino Unido e está sob o controle da Inglaterra há 500 anos, mas exatamente por isso os galeses têm um claro desejo de afirmação nacional. Quando desembarquei do trem a placa da estação dizia Cardiff Central em letras pretas e, acima, em letras verdes: Caerdydd Canolog, que vem a ser a estação Central de Cardiff em galês. A língua de origem celta foi a forma mais importante de manter uma identidade nacional galesa, apesar de ter sido proibida durante muito tempo pela Inglaterra. Hoje em dia, é ensinada nas escolas e há até um canal de televisão próprio em Galês, embora seja falada por apenas 20% da população. O mais comum é misturarem expressões em Inglês e em Galês, o que é conhecido como Wenglish, ou seja, uma mistura de Welsh (Galês) e English (Inglês).

Garoto com as cores do Cardiff City. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

O esporte sempre foi um instrumento importante de afirmação da identidade nacional. Vencer a Inglaterra no rugby ou no futebol é a suprema glória em Gales. Por uma dessas ironias da história, o Cardiff City surgiu a partir de um time de cricket – um esporte sempre associado aos ingleses. Em 1899 os jogadores do Riverside Cricket Club decidem fundar um time de futebol para se reunirem e se manterem em forma durante o inverno. Em 1908 o time passa a ser chamado de Cardiff City. Naquele tempo Cardiff era um porto movimentadíssimo, por onde escoava o carvão extraído das minas do sul de Gales e que antes da energia elétrica foi a principal fonte de energia para movimentar as indústrias, as locomotivas e os navios durante a Revolução Industrial. O “ouro negro”, como era chamado, transformara a pacata Cardiff, que até 1801 tinha só dois mil habitantes, em um centro dinâmico que se torna capital em 1955.

Na década de 1920, a prosperidade econômica de Cardiff refletia-se nos gramados e naqueles anos o Cardiff City joga na primeira divisão e disputa a final da FA Cup em duas oportunidades, vencendo o Arsenal por um a zero em 1927, no primeiro jogo a ser transmitido pelo rádio pela BBC. O declínio do carvão a partir da década de 1940 e o processo de desindustrialização em curso nos anos 80 atingiram fortemente Gales e o Cardiff City foi junto: em 1986 chegaram a ser rebaixados para a 4a. Divisão. Aos poucos a economia de Gales têm se adaptado a um cenário pós-industrial, mas o clube ainda tem passado maus pedaços. Afundado em milhões de libras em dívidas, em 2000 o clube chegou a ser comprado por Sam Hammam um milionário libanês mais interessado no vil metal do que em futebol. Pensando em ampliar o “mercado” do clube, Hammam pretendia renomear o clube “The Cardiff Celts”, abandonando o azul pelas cores da bandeira nacional de Gales: verde, vermelho e branco. A resistência dos diretores e dos torcedores fez Sam mudar de ideia. Em 2006 Hammam vendeu o clube por 27 milhões de libras para um consórcio que inclui a companhia que vai construir um novo estádio em frente ao Ninian Park. Deve ter capacidade para 25 mil espectadores sentados.

As obras do novo estádio. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Quando estive lá aproveitei para dar uma olhada nas obras. Espiando pela cerca, pude ver que além de um terreno plano cheio de tratores, só há um esqueleto de uma das arquibancadas. O clube planejava estar jogando no novo estádio na temporada de 2010-11. Isso se houver dinheiro. Por isso a semifinal em Wembley pode vir a representar o início de uma virada para o clube. Naquele sábado podia se sentir a esperança no ar. Muitas banquinhas vendiam cachecóis, bandeiras, camisas dizendo “Wembley, lá vamos nós”. Uma delas tinha um cartaz avisando: “Não vá gastar dez em Wembley, compre sua bandeira aqui por duas libras”.

Antes de entrar, dei uma volta em torno do estádio. Em uma das portas de entrada vejo uma placa daquelas do tipo “É proibido” com duas palavras: “No hooligans”. Mais adiante, em outra entrada, mais uma placa: “Make Cardiff a hooligan free zone” (Faça de Cardiff uma área sem hooligans). A torcida do Cardiff é uma das mais exaltadas – digamos assim – da Grã-Bretanha. Os incidentes não são incomuns. Na semana anterior, quando haviam jogado ali contra os arqui-rivais do Bristol City, foram necessários 180 stewards e muitos policiais para evitar maiores problemas. Mesmo assim, de acordo com um steward com quem conversei do lado de fora estádio, houve arremesso de moedas e pequenas brigas. De qualquer forma, depois do jogo os 38 ônibus com torcedores do Bristol City saíram dali tranquilamente.

“No hooligans”: uma provocação aos ingleses. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

A maior rivalidade do Cardiff City, todavia, é com outro time de Gales: o Swansea City. Como o Swansea estava liderando com folga o campeonato da terceira divisão, o mais provável é que em 2008-9 os dois times venham a se enfrentar. O mesmo steward previa muitos problemas, porque “o pessoal não vai vir de ônibus”, afirma ele com cara preocupada, “eles virão de carro, bebendo pelo caminho”. O novo estádio vai ser construído de forma a que os torcedores do time visitante entrem e saíam sem ter contato com os torcedores da casa. Mas no caso do Swansea City isso não vai adiantar: “as brigas não vão ser no estádio, vão acontecer no centro da cidade”.

No sábado em que fui ao Ninian Park, o clima parecia ser bem tranquilo. Nos trailers que serviam a ração tradicional de hamburguer acebolado e batata-frita, torcedores de camisas azuis do time da casa misturavam-se pacificamente com os torcedores de vermelho do Southampton. Havia poucos policiais do lado de fora, não havia nenhum policial montado a cavalo, nem policiais com cães.

De qualquer forma, por precaução, assim que abrem as roletas de entrada a torcida do Southampton vai ocupar seus lugares dentro do estádio. Faltando pouco mais de uma hora para o jogo começar, eu também resolvo entrar. Ainda havia poucos torcedores do Cardiff City no terrace do Grange End, os que já haviam entrado bebiam sua cervejinha (2o. mandamento: “Beba Cerveja”) no corredor que leva à arquibancada. Ou olhavam com certa letargia os “melhores momentos” de jogos passados.

De um lado do Grange End adolescentes do Southampton provocam os torcedores da casa. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Dentro do Grange End, todavia, já havia um pequeno grupo composto por uns 30 jovens, adolescentes em sua maioria, decididos a provocar os torcedores do Southampton. São respondidos sobretudo por um grupo de adolescentes do Southampton. De início nenhum dos dois lados pega muito pesado. uma hora antes do jogo começar, as provocações dos torcedores do Southampton eram quase sempre respondidas com a canção tradicional dos clubes que vão disputar um torneio importante em Wembley:

“Que sera, sera,
Wathever will be, will be,
We are going to Wem-ber-lee,
Que sera, sera.”

(O que será, será,
O que será, será,
Nós vamos pra Wem-ber-lêi,
O que será, será.)

Forçados a dividir o Grange End, com apenas uma cerca de metal e alguns stewards a separá-los, os torcedores dos dois lados começam a aumentar o grau das provocações. Os adolescentes do Cardiff cantam uma canção falando em matar ingleses. Os ingleses do Southampton tentam irritar a torcida do Cardiff com a tradicional

“You wish you were In-ge-lish
You wish you were In-ger-lish”

(Vocês queriam ser in-gre-ses
Vocês queriam ser in-gre-ses)

mas os galeses respondem asperamente:

“In-ger-land is full of shit”

(A In-gra-terra é metida demais ou, numa tradução literal: cheia de merda)

No que são respondidos por um grupo de adolescentes do Cardiff City. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Embora a bandeira nacional de Gales ostente um imponente dragão vermelho soltando labaredas de fogo, o símbolo não-oficial do país é a pacífica ovelha. Afinal, “Não matar dragões” é apenas o 4o. mandamento, enquanto “Adorar ovelhas” é o primeiríssimo. Pude ver rebanhos delas com suas simpáticas carinhas pretas durante a viagem de trem até Cardiff. Por isso as torcidas inglesas, ao enfrentarem equipes de Gales, normalmente presenteiam seus adversários com canções afirmando que os galeses não gostam transar com mulheres e sim com ovelhas. Quando aos seis minutos o lourinho Paul Parry põe o Cardiff City na frente escorando um centro da direita, a torcida do Cardiff City em peso canta

“One nil for the sheep shaggers”

(Um a zero para os amantes [digamos assim] de ovelhas)

A partir daí foi só alegria. Em campo o Southampton era só vontade sem nenhuma inspiração. A cada erro do time inglês, no seu tradicional uniforme vermelho e branco com listras verticais e calções pretos, a torcida do Cardiff não perdoava:

“That is why you are goind down”

(É por isso que vocês serão rebaixados)

O nervoso silêncio dos torcedores adversários após o gol dos Bluebirds também foi percebido:

“Agora vocês não estão cantando mais”

O dragão é o símbolo de Gales. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

E para celebrar aquela alegre tarde chuvosa e fria, nada melhor do que uma coreografia básica. Em estádios onde só há lugares sentados é comum ouvir gritos do tipo “Quem odiar X se levante”. No terrace do Grange End, onde a torcida do Cardiff assistia ao jogo de pé era necessário fazer uma adaptação. Um gaiato grita: “Who hates the English sit down” (Sentados aqueles que odiarem os ingleses) e imediatamente a torcida agacha-se e dobra os joelhos como se fosse sentar em uma imaginária cadeira.

A turma do Southampton, bem ali ao lado, começou a estranhar a brincadeira. As centenas de torcedores que haviam viajado horas de ônibus, trem ou em carros particulares vindos do extremo sul da Inglaterra não estavam vendo muita esperança de empatar e muito menos de virar aquele jogo. Sem coordenação, sua equipe tentava levantar bolas e mais bolas sobre a área, mas a defesa do Cardiff rebatia sem maiores problemas. Os balõezinhos vermelhos com que eles haviam saudado a entrada da sua equipe já haviam sido estourados um a um pelos jogadores. Assim que começa o segundo tempo, alguém da torcida do Southampton solta uma bomba de fumaça vermelha na área neutra. Turumbamba. Com dificuldade os stewards conseguem conter os torcedores de ambos os lados. Mesmo sem transpor a zona neutra, os torcedores de ambos os lados xingam e gesticulam sem parar.

Em campo um jogo tipicamente inglês – muito jogo aéreo. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Àquela altura os stewards já haviam pedido reforço para cerca de dez policiais, cuja presença lembrava os torcedores da possibilidade de serem presos. Um dos homens da lei empunhava a arma mais temida pelos torcedores: uma filmadora apontada para a turma que queria brigar. No meio da zona neutra havia uma plataforma com mais ou menos um metro de altura que permitia a esse policial ter uma visão panorâmica. Além do circuito interno de televisão que permite identificar no atacado os que se meterem em confusão, a filmadora permite dar uma atenção mais específica a um determinado grupo ou até a indivíduos em particular. É preciso lembrar que na Inglaterra e em Gales existe uma legislação específica para transgressões ou crimes relacionados ao futebol, o que significa tanto dentro quanto fora do estádio e até 24 horas antes ou depois do jogo. Montam-se dossiês contra torcedores violentos e os tribunais dão uma ordem de banimento dos campos de futebol que dura no mínimo 3 e pode chegar a 10 anos.

Antes do jogo começar, já dentro do terrace do Grange End eu havia conversado com dois stewards. O mais velho, um quarentão que já trabalhava naquela função há 7 anos, era da opinião que os terraces criam mais problemas de segurança. Seu colega mais novo, todavia, diz que os estádios com somente lugares sentados “matam a atmosfera”. Para ele em todo estádio deveria haver lugar para uns três mil torcedores “desse tipo”, fala apontando para o pessoal em pé dos dois lados do Grange End.

O policial e sua arma: a filmadora. Foto: Marcos Alvito (arquivo pessoal).

Seja como for, em menos de 5 minutos as torcidas já haviam se acalmado sem que a polícia tivesse batido em ninguém: a ênfase é identificar, fichar e punir.

Na verdade, de olho no gramado mas com o coração já em Wembley, a torcida do Cardiff era pura alegria. Até deixaram os palavrões de lado para entoar “My beloved Cardiff” (Meu amado Cardiff). E quando termina o jogo eles nem se importam com o fato dos Beatles serem ingleses e cantam ao som de Hey Jude:

“Lá, lá, lá, lá,Lá, lá, lá, lá,

Lá, lá, lá, lá,

C-i-i-i-t-y”

Prorrogação para os curiosos:

Outros mandamentos galeses são:

3o. Use as 3 penas [com as cores de Gales] com orgulho

8o. Aprenda nosso hino (e não somente o refrão)

9o. Tome e “goste” de sopa de leek (alho-poró)

10o. Reuna-se e beba em dia de jogos internacionais

Ah, já ia esquecendo: o glorioso título da FA Cup em 1927, graças a um frango antológico do goleiro do Arsenal, foi conquistado em 23 de abril, dia de São Jorge, padroeiro da Inglaterra e ainda por cima inimigo declarado de dragões…