“Arjuna entende, naquele momento, o que significa a samsara-cakra, a roda do samsara, o ciclo contínuo da vida, com momentos de felicidade e infelicidade, que jamais produz a satisfação completa. Qualquer ganho sempre envolve uma perda, e a perda, um ganho. Arjuna entende que, através da ação, satisfazendo seus desejos de segurança e prazer, ainda que governada pelo dharma, jamais alcançará a satisfação. Continuamente haverá o desejo de ser feliz, de ser suficiente.
O desejo é um sintoma de que a pessoa não está completa. E não é exatamente um objeto que ela deseja, mas algo através do qual ela planeja ser diferente e feliz. Isto porque já concluiu que é infeliz do jeito que é, limitada e insuficiente. O desejo, e consequentemente a ação para ser diferente, e só então feliz, é o impulso para a roda do samsara, da constante transformação na vida e a inevitável insatisfação, pois uma pessoa limitada somada a um número infinito de conquistas limitadas será sempre insuficiente e limitada e, portanto, infeliz. Não serão acréscimos que o farão infeliz ou feliz! Talvez o façam se sentir mais confortável. Se é possível ser feliz e completo, não será através de um processo de transformação, mas através da descoberta do ser eterno e completo. Será possível dar um basta à busca sem fim de ser diferente, e, então, ser feliz?”
Fonte: Bhagavadgita, tradução do sânscrito e comentários de Gloria Arieira, volume 1. Rio de Janeiro, Vidya-Mandir editorial, 2009.
(continua amanhã)