Rose Muraro: “Uma vez que a arqueologia parece não obedecer a um método, podemos considerá-la como uma atividade aparentada com a arte ?
M.F.: É verdade que o que tento fazer é cada vez menos inspirado pela idéia de fundar uma disciplina mais ou menos científica. O que procuro fazer não é algo que esteja ligado à arte, mas sim uma espécie de atividade. p.130 Uma espécie de atividade, mas não uma disciplina. Atividade essencialmente histórico-politica. Não creio que a história possa servir à politica pelo fato de fornecer-lhe modelos ou exemplos. Não procuro saber, por exemplo, em que medida a situação da Europa no começo do século XIX é semelhante à situação do resto do mundo no fim do século XX. Este tipo de analogia não me parece fecundo. Por outro lado, parece-me que a história pode servir à atividade política e que esta, por sua vez, pode servir à história na medida em que a tarefa do historiador, ou melhor, do arqueólogo, seja descobrir as bases, as continuidades no comportamento, no condicionamento, nas condições de existência, nas relações de poder, etc. Essas bases que se constituíram num dado momento, que substituíram e que permaneceram, estão atualmente escondidas sob outras produções ou estão escondidas simplesmente porque de tal maneira fazem parte do nosso corpo, de nossa existência; assim, parece-me evidente que tudo isso tenha tido uma gênese histórica. (…) Para mim, a arqueologia é isso: uma tentativa histórico-política que não se baseia em relações de semelhança entre o passado e o presente, mas em sim em relações de continuidade e na possibilidade de definir atualmente objetivos táticos de estratégia de luta, precisamente em função disso.
(A verdade e as formas jurídicas)