Interlocutor não identificado:
Deleuze disse que o senhor é um poeta. Ora, o senhor acaba de afirmar que não é um poeta, que a arqueologia não é uma arte, não é uma teoria, não é um poema, é uma prática. Sera a arqueologia uma prática miraculosa ?
MF: A arqueologia é uma máquina, sem dúvida, mas porquê miraculosa ? Uma máquina crítica, uma máquina que recoloca em questão certas relações de poder, máquina que tem, ou pelo menos deveria ter, uma funcão libertadora. ..
É preciso ressaltar que não endosso sem restrições o que disse nos meus livros… No fundo, escrevo pelo prazer de escrever. (…)
Gostaria de acrescentar que a arqueologia, esta espécie de atividade histórico-política, não se traduz forçosamente por livros, nem por discursos, nem por artigos. Em última análise, o que atualmente me incomoda é justamente a obrigação de transcrever, de enfeixar tudo isso num livro. Parece-me que se trata de uma atividade ao mesmo tempo prática e teórica que deve ser realizada através de livros, de discursos e de discussões como esta, através de ações políticas, da pintura, da música…
(A Verdade e as Formas Jurídicas:127-133)