“Eu não sou um escritor, um filósofo, uma grande figura da vida intelectual: eu sou um professor. Há um fenômeno social que me preocupa bastante. Desde os anos 60, alguns professores estão se tornando homens públicos com as mesmas obrigações. Eu não quero tornar-me um profeta e dizer, ‘Sentem-se, por favor, o que eu tenho a dizer é muito importante’. Eu vim para discutirmos nosso trabalho em comum.
(…)
Eu não sinto que seja necessário saber exatamente quem eu sou. O mais interessante, na vida, bem como no trabalho, é tornar-se uma pessoa diferente daquela que você era no começo. Se, ao iniciar um livro, você já soubesse o que iria dizer no fim, você teria vontade de escrevê-lo ? O que é verdadeiro para escrever e para o relacionamento amoroso também é verdadeiro para a vida. O jogo vale à pena até o momento em que não sabemos qual será o fim. O meu campo é a história do pensamento. O homem é um ser pensante. A maneira pela qual ele pensa está relacionada à sociedade, à política, à economia e à história e também relaciona-se a categorias muito gerais e universais e a estruturas formais. Mas o pensamento é mais do que as relações societárias. A maneira pela qual as pessoas pensam não é adequadamente analisada através das categorias da lógica. Entre a história social e as análises formais do pensamento há um caminho, uma trilha – talvez muito estreita – que é o caminho do historiador do pensamento.”
(Em “Truth, Power, Self: An Interview with Michel Foucault” – October 25th, 1982.
From: Martin, L.H. et al (1988) Technologies of the Self: A Seminar with Michel Foucault. London: Tavistock. pp.9-15.)