POEMA DE HOJE
O VESTIDO, Adélia Prado (1935- )
Já disse que “para mim Adélia Prado não existe feito gente, é uma entidade pairando”. Vejam este poema que é delicadeza pura, para variar:
O VESTIDO
No armário do meu quarto escondo de tempo e traça
meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas
à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito,
meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo e volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.
Fonte: Bagagem.