QUARTO VAZIO
Um quarto do quarto está vazio
nem lembrança, nem pavio
amadeirado mandarim insone
a cama, só um lençol branco muito envelhecido
já se passaram seis anos
num abraço dolorido contra o travesseiro
gavetas e armários abertos
passa um vento entre os cabides
a camisa de botão desabotoada
marca no peito o vazio
no vai e vem de um quarto ao outro
faço minha mudança
você não mais ali, amigo
releio os teus bilhetes datilografados
o teu poema em mim
ressoa o teu pigarro de cigarro e café
eu volto e balanço o lençol
deito e deixo as botas penduradas na cabeceira
ainda escuto tua respiração
ainda friso teu riso,
ainda me apavoro