POEMA DE HOJE
LETICIA FERES
Deixemos que a própria poeta fale de si e da sua poesia:
O “espaço que o poeta habita” — como Wlademir Dias-Pino definiu de maneira tão bonita — é para mim um lugar de possibilidades, de experimentação. E esse é um espaço necessariamente protegido, fora do controle do patriarcado. Mas eu preciso me lembrar disso a cada vez que escrevo, porque a liberdade é uma grande dificuldade e uma grande busca, que tenho como necessidade pessoal. Então, nesse sentido, não vejo o poema como um grito diante do absurdo, mas uma maneira possível de processar a realidade do mundo exterior e interior. E cada pessoa tem a própria maneira de fazer isso.
(Entrevista a Thadeu C. Santos da kza1)
[Amiga,]
Se fores escrever
Ufana o lúbrico falo
A coluna grega que sustém o mundo.
Rejubila-te pela inteligência,
pelo charme, gentileza
& devotado cavalheirismo
do macho que te lê
Deleita-te com o modo como lambem envelopes
ou dobram
teu poema de mulher
com o peso da mão que o protege
de tua própria fragilidade
Que deves simular haver.
*
Use o tu como convém a uma tradicional mulher distinta
Depreende os olhares abrasivos
desses Casanova-
-iorquinos
Aposta no eufemismo
Delicia-te com anacronismos
Se possível uses rimas
Métrica & forma fixa
Dê a eles um petisco
Abra uma garrafa
de pizco
Bebe
comandante do gargalo
das expectativas
Empenha-te na afasia
Se quiseres ser publicada um dia.