POEMA DE HOJE
MÁRIO FAUSTINO (1930-1962)
Em uma vida muito breve, o piauiense Mário Faustino deixou sua marca tanto na poesia quanto na crítica literária, exercida com competência e coragem. Tinha uma Página no Jornal do Brasil em que não deixou de criticar figuras sagradas da poesia brasileira como Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade. Sua poesia e sua crítica beneficiavam-se da sua erudição e do seu conhecimento de línguas.
DIVISAMOS ASSIM O ADOLESCENTE
Divisamos assim o adolescente,
A rir, desnudo, em praias impolutas.
Amado por um fauno sem presente
E sem passado, eternas prostitutas
Velavam por seu sono. Assim, pendente
O rosto sobre o ombro, pelas grutas
Do tempo o contemplamos, refulgente
Segredo de uma concha sem volutas.
Infância e madureza o cortejavam,
Velhice vigilante o protegia.
E loucos e ladrões acalentavam
Seu sono suave, até que um deus fendia
O céu, buscando arrebatá-lo, enquanto
Durasse ainda aquele breve encanto.
