POEMA DE HOJE
Ferreira Gullar
MANHÃ DE SOL
Vianinha, Paulinho, Armando Costa
que dia lindo, não?
Estou passando de carro
ao lado do cemitério São João Batista
e quase escuto vocês aí dentro
falando e rindo
debaixo desse sol.
que dia lindo, não?
Estou passando de carro
ao lado do cemitério São João Batista
e quase escuto vocês aí dentro
falando e rindo
debaixo desse sol.
Deve ser bom estar assim entre amigos
livres das aporrinhações da vida
a olhar as nuvens
e os passarinhos
que por aí
passarinham.
livres das aporrinhações da vida
a olhar as nuvens
e os passarinhos
que por aí
passarinham.
Invisíveis,
de que falam vocês
recostados no túmulo de Vinicius de Moraes?
Do CPC? do Opinião? do futuro
da Nova República?
ou simplesmente flutuam
como os ramos
ao fluxo da brisa?
Paro no sinal da Rua Mena Barreto.
– E pode um marxista admitir
conversa entre defuntos?
Não é a morte o fim de tudo?
– É claro, digo a mim mesmo, é claro –
e sigo em frente.
de que falam vocês
recostados no túmulo de Vinicius de Moraes?
Do CPC? do Opinião? do futuro
da Nova República?
ou simplesmente flutuam
como os ramos
ao fluxo da brisa?
Paro no sinal da Rua Mena Barreto.
– E pode um marxista admitir
conversa entre defuntos?
Não é a morte o fim de tudo?
– É claro, digo a mim mesmo, é claro –
e sigo em frente.
Mas dentro da minha alegria
os três amigos continuam a conversar e a rir
nesta manhã brasileira
que torna implausível a escura morte.
Ferreira Gullar
os três amigos continuam a conversar e a rir
nesta manhã brasileira
que torna implausível a escura morte.
Ferreira Gullar
Nasce o Poema
há quem pense
que sabe
como deve ser o poema
eu
mal sei
como gostaria
que ele fosse
há quem pense
que sabe
como deve ser o poema
eu
mal sei
como gostaria
que ele fosse
porque eu mudo
o mundo muda
e a poesia irrompe
donde menos se espera
às vezes
cheirando a flor
o mundo muda
e a poesia irrompe
donde menos se espera
às vezes
cheirando a flor
às vezes
desatada no olor
da fruta podre
que no podre se abisma
(quanto mais perto da noite
Mais grita
o aroma)
às vezes
num moer
de silêncio
desatada no olor
da fruta podre
que no podre se abisma
(quanto mais perto da noite
Mais grita
o aroma)
às vezes
num moer
de silêncio