/POEMA DE HOJE – Geração Paissandu – Paulo Henriques Brito

POEMA DE HOJE – Geração Paissandu – Paulo Henriques Brito

GERAÇÃO PAISSANDU – Paulo Henriques Brito

Vim, como todo mundo

do quarto escuro da infância,

mundo de coisas e ânsias indecifráveis,

de só desejo e repulsa.

Cresci com a pressa de sempre.

 

Fui jovem, com a sede de todos,

em tempo de seco fascismo.

Por isso não tive pátria, só discos.

Amei, como todos pensam.

Troquei carícias cegas nos cinemas,

li todos os livros, acreditei

em quase tudo por ao menos um minuto,

provei do que pintou, adolesci.

 

Vi tudo que vi, entendi como pude.

Depois, como de direito,

endureci. Agora a minha boca

não arde tanto de sede.

Minhas mãos é que coçam –

vontade de destilar

depressa, antes que esfrie,

esse caldo morno de vida.