POEMA DE HOJE
Nosso Vinicius dizia que Rimbaud (1854-1891) era tão simplesmente “o maior de todos”. Mesmo dentre os poetas, sempre pouco lineares, teve uma trajetória conturbada e enigmática: o romance com Verlaine, intenso e conflituoso, o abandono da poesia ainda na juventude, a vida de traficante de armas na África e a morte aos 37 anos. Este poema foi retirado de sua última obra, Uma temporada no Inferno, composta quando ele tinha 19 anos:
NO VERÃO ÀS QUATRO DA MANHÃ
No verão às quatro da manhã
o sono do amor ainda dura.
Sob o arvoredo se evapora
o odor da noite de festa
Ali, na vasta cocheira,
das Hespérides* ao sol,
já, em mangas de camisa,
se movem os Carpinteiros.
Em seus Desertos de seiva,
preparam os belos painéis
em que a cidade terá
seus falsos céus.
Aos atraentes operários,
súditos de um rei da Babilônia,
Vênus deixa um instante os Amantes
coroada por suas almas.
Ó Rainha dos Pastores,
traz a aguardente aos que trabalham
para manter-lhes as forças até o banho
do meio-dia no mar.
* N. do T. – Três filhas de Atlas, que tinham um jardim que dava frutos de ouro, sob guarda de um dragão de cem cabeças. Hércules, no décimo-primeiro de seus doze trabalhos, mata o dragão e pega os frutos.
Tradução: Paulo Hecker Filho