POEMA DE HOJE
PAULO MENDES CAMPOS (1922-1991)
O mineiro Paulo Mendes Campos, mais conhecido como o magnífico cronista que foi, também foi poeta.
LITOGRAVURA
Eu voltava cansado como um rio.
No Sumaré altíssimo pulsava
a torre de tevê, tristonha, falava.
Não: voltava humilhado como um tio
bêbado chega à casa de um sobrinho.
Pela ravina, lento, lentamente,
feria-se o luar, num desalinho
de prata sobre a Gávea de meus dias.
Os cães quedaram-se quietos bruscamente.
Foi no tempo dos bondes: vi um deles
raiar pelo Bar Vinte, borboleta
flamante, touro rútilo, cometa
que se atrasa no cosmo e desespera:
negra, na jaula em fuga, uma pantera.
Passei a mão nos olhos: suntuosa,
negra, na jaula em fuga, ia uma rosa.