POEMA DE HOJE
VIOLÊNCIA, Erich Fried (1921-1988)
Este poeta austríaco, obrigado a fugir para Londres para escapar dos nazistas, publicou seu primeiro livro de poesia em 1944, com versos de resistência. Ficará muito conhecido por uma coletânea de poesia amorosa publicada em 1979. Hoje é um poeta bastante popular dentre os de língua alemã.
O poema a seguir foi traduzido pela querida poeta Simone Brantes, que esteve no nosso POEMA DE HOJE mais de uma vez.
A violência
A violência não começa
quando alguém estrangula alguém.
ela começa quando alguém diz
“Eu te amo:
você me pertence!”
A violência não começa
quando pacientes são mortos
Ela começa quando alguém diz
“Você está doente
tem de fazer o que eu digo!”
A violência não começa
quando pais
dominam os filhos obedientes
e quando papas e professores e pais
exigem autodomínio.
A violência impera onde o Estado diz:
“Para combater a violência
não pode haver mais violência
exceto a minha violência!”
A violência impera
onde alguém ou algo
é tão superior ou tão sagrado
para ser ainda criticado
Ou onde à crítica nada se permite fazer
além de falar
e aos superiores e aos sagrados
se permite mais do que falar
A violência impera onde se diz
“você pode usar de violência”
mas também onde se diz:
“você não pode usar de violência!”
A violência impera lá
onde ela encarcera seus opositores
e os calunia
como insufladores da violência.
A carta magna da violência
diz: “Certo é o que fazemos
o que os outros fazem
é a violência!”
A violência nunca se
supera com violência
mas nem sempre também
sem violência