POEMA DE HOJE
Bertolt Brecht (1898-1956) foi poeta, novelista e crítico de arte, mas é mais conhecido como teatrólogo, sendo considerado um dos maiores do seu tempo e autor de uma obra revolucionária, sempre se posicionando contra o fascismo e o capitalismo. Fugindo no nazismo passa um tempo nos Estados Unidos, onde sobrevive fazendo roteiros para Hollywood, contradição que ele mesmo exploraria:
Para ganhar o pão, cada manhã
vou ao mercado onde se compram mentiras.
Cheio de esperança
ponho-me na fila dos vendedores
(Hollywood, Antologia Poética)
Perseguido pelo macartismo, volta à Alemanha, escolhendo a porção oriental e comunista, onde funda a importantíssima companhia teatral Berliner Ensemble, que encena toda a sua obra.
DE TODOS OS OBJETOS, Bertolt Brecht (Antologia Poética)
De todos os objetos, os que mais amo
são os usados.
As vasilhas de cobre com as bordas amassadas,
os garfos e as facas cujos cabos de madeira
foram colhidos por muitas mãos. Estas são as formas
que me parecem mais nobres.
Estes ladrilhos das velhas casas
gastos por terem sido pisados tantas vezes,
estes ladrilhos onde cresce a grama.
me parecem objetos felizes.
Impregnado do uso de muitos,
a miúda transformados, foram aperfeiçoando suas formas
e se fizeram preciosos
porque têm sido apreciados muitas vezes.
Agradam-me, incluso, os fragmentos de esculturas
com os braços cortados. Viveram também por mim.
Caíram porque foram transladados.
Derrubaram-nas, talvez, porque estavam muito altas.
As construções quase em ruína
parece todavia projetos sem acabar,
grandiosos; suas belas medidas
podem já imaginar-se, mas ainda necessitam
de nossa compreensão. E além do mais
já serviram, inclusive já foram superadas. Todas estas coisas
me fazem feliz