“Otacília, ‘forte como a paz’, é apenas uma lembrança, imagem ideal colhida, de passagem, num pedaço de sertão, e que sobre a alma do jagunço exerce um efeito purificador, levando-o a sonhar com uma vida outra, fora das andanças de guerrear e pelejar. Diadorim infunde-lhe uma paixão equívoca, vizinha do estado de confusão e encantamento atribuído ao Maligno ou ao poder do Destino: ‘Aquela mandante amizade [fala Riobaldo, referindo-se ao Reinaldo, Diadorim]. Eu não pensava em adiação nenhuma, de pior propósito. Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Diga o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita’. Feitiço, artes e partes do Demo, astúcias do Maligno, que provêm menos de uma potência estranha, exterior ao homem, do que dos excessos, das ‘demasias do coração’.”
Benedito Nunes. A Rosa o que é de Rosa: literatura e filosofia em Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013.