O habitus e o “eu”
“Sem dúvida podemos encontrar no habitus o princípio ativo, irredutível às percepções passivas, da unificação das práticas e das representações (isto é, o equivalente, historicamente constituído e portanto historicamente situado, desse eu cuja existência, segundo Kant, devemos postular para justificar a síntese do diverso sensível operada na intuição e a ligação das representações numa consciência). Mas essa identidade prática somente se entrega à intuição na inesgotável série de suas manifestações sucessivas, de modo que a única maneira de apreendê-la como tal consiste talvez em tentar recuperá-la na unidade de um relato totalizante (como autorizam fazê-lo as diferentes formas, mais ou menos institucionalizadas, do ‘falar de si’, confidência etc.).”
BOURDIEU, Pierre. “Ilusão biográfica” In: Usos e abusos da História Oral. p. 176.