LENDO COM PRAZER
NO CORAÇÃO DO COMANDO, de Júlio Ludemir
Acho o livro sensacional. Mas devo confessar que sou triplamente suspeito: gosto do tema, sou amigo do autor e fiz a orelha do livro:
A história de um amor nos tempos da cólera, do AR-15, do Comando Vermelho e do Terceiro. Na selva pós-moderna onde a vendetta feudal é planejada via celular. Nas “prisões da miséria” de onde transbordam vida e morte sem cessar. Onde castelos feitos de pó dão um novo e inesperado significado ao provérbio: “Do pó vieste, ao pó voltarás”. Tão inesperado quanto novos Montéquios e Capuletos de granadas na mão em eterna disputa pelos morros da Cidade Maravilhosa.
Decifra-me ou te devoro, parece dizer a esfinge que agora habita o outro lado do Túnel Rebouças. Num lance arrojado e certeiro, Júlio Ludemir mergulhou para além das fronteiras da Zona Sul. Com a mesma coragem do goleiro experiente que encara ferozes peladas nos campinhos de terra batida lá de Acari. Numa dessas aventuras, deparou-se com a história quase inacreditável, um Romeu e Julieta das cadeias cariocas. Transformou-a num romance cheio de lirismo heavy metal, como se Mike Tyson desferisse socos em vôo de beija-flor no embalo do funk.
O autor partilha conosco sua grande sacada. O “criminoso”, essa figura esculpida pela ciência que construiu a sociedade da vigilância e do controle, pois bem, o “criminoso” tem alma. E sonhos, e amores. Pois o poeta romano já dizia: “nada do que é humano me é estranho”. E por mais que a monstruosidade da persona criminal seja modelada pela imprensa em papel, voz e imagem, por mais que se erga a barreira imaginária, o que nos é estranho também é humano.
Nada de sociologia. Uma história sem caô, tudo papo direto e reto, como diria uma das personagens. Segure firme na cadeira, prezado leitor, a viagem vai começar.