POEMA DE HOJE
Em 1857 Charles Baudelaire (1821-1867) publica As flores do mal e tem que responder a um processo por suposta imoralidade. Baudelaire era um rebelde: larga o curso de Direito, gasta em pouco tempo a herança paterna e vive como um boêmio. Mesmo assim se realiza como poeta e como pensador da modernidade. Segundo José Paulo Paes: “cultivando com refinamentos perversos o seu erotismo, encontra na aguda consciência do pecado o mais excitante dos ingredientes.” O poema que se segue está em As flores do mal e depois de começar bem tranquilo, vai esquentando…
AS PROMESSAS DE UM ROSTO, Baudelaire (Antologia Poesia Erótica em tradução, de José Paulo Paes)
Amo, ó pálida beleza, os teus cenhos curvados
Que dão às trevas todo o império;
Teus olhos, embora negros, me inspiram cuidados
Que não têm nada de funéreos
Teus olhos, que imitam a negrura dos cabelos
Da tua longa crina elástica,
Teus olhos langues me dizem: “Amante, se o apelo
Queres seguir da musa plástica
Que infundimos no teu ser, ou tudo que contigo
Em matéria de gosto trazes,
Poderás ver, desde as nádegas até o umbigo,
Que nós te fomos bem verazes;
Encontrarás, sobre dois belos seios pontudos,
Dois grandes medalhões de bronze,
E sob o ventre liso, macio como veludo,
Amorenado como bronze,
Um rico tosão que à tua enorme cabeleira
Copia no negrume e na espessura;
De tão sedoso e encrespado, ele te iguala inteira,
Noite sem astros, Noite escura!”