Os poemas que se seguem foram retirados do livro Bazar, uma linda tabelinha entre o escritor Andre Argolo e o artista plástico Eber de Gois. É o segundo livro de Argolo, que antes havia lançado Vento Noroeste, já comentado aqui. Andre Argolo, ainda bem, é uma pessoa difícil de resumir. Foi jornalista de sucesso por 20 anos mas fazendo valer a coragem que tem no nome – andrea é coragem em grego – lançou-se à aventura de se reinventar como professor de escrita criativa e poeta. Também faz vídeos documentais sobre literatura com a mesma aguda sensibilidade com que constrói as palavras. Com humildade, ele busca sempre olhar as coisas para além do que elas parecem ser. Pois todo poeta é um demiurgo, que recria o mundo, e poesia vem de poieo, que significa fazer.
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vão
poetas sempre se vão
poesia é o que se finca
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apaguei décadas de números:
do asilo do pai que morreu
da tia do tio que morreu
de quem não me lembro quem foi
da pizzaria que fechou aqui no bairro
da gente que mudou de cidade
amigo que deixou de ser
e essa merda segue lotada
de telefonemas que não dei
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gramática para contar
poema para driblar
gramática regra e traço
poema de rabiscar
gramática para acertar
todo o resto errado
poema para perdoar