POEMA DE HOJE
Linda, linda, linda. Talentosa e original. Ana Cristina Cesar resolveu abandonar este mundo aos 31 anos de idade. Seu único livro publicado deixou uma marca na poesia brasileira. Caio Fernando Abreu apresenta assim a sua obra: “Ana C. concede ao leitor aquele delicioso prazer meio proibido de espiar a intimidade alheia pelo buraco da fechadura. Intimidade às vezes atrevida, mas sempre elegantíssima. Intimidade dentro de um espaço literário particular, onde não há diferença entre poesia e prosa, entre dramático e irônico, culto e emocional, cerebral e sensível.”
O poema de hoje é assim, um relato sutil e divertido do que parece ter sido um amasso e tanto em pleno vôo:
Intruções de bordo, Ana Cristina Cesar (A teus pés)
(para você, A.C., temerosa, rosa, azul celeste)
Pirataria em pleno ar
A faca nas costelas da aeromoça.
Flocos despencando pelos cantos dos
lábios e casquinhas que suguei atrás
da porta.
Ser a greta,
o garbo,
a eterna liu-chiang dos postais vermelhos.
Latejar os túneis lua azul celestial azul,
Degolar, atemorizar, apertar
o cinto, o senso, a mancha
roxa na coxa: calores lunares,
copas de champã, charutos úmido de
licores chineses nas alturas.
Metálico torpor na barriga
da baleia.
Da cabine o profeta feio,
de bandeja,
Três misses sapatinho fino alto esmalte nau
dos insensatos supervôos
rasantes ao luar
despetaladamente
pelada
pedalar sem cócegas sem súcubos
incomparável poltrona reclinável