POEMA DE HOJE
Desejos
Konstantinos Kaváfis (1863-1933)
Konstantinos Kaváfis pertencia a uma família próspera, que empobreceu com a morte do pai quando o poeta ainda era menino. Nasceu em Alexandria, no Egito, mas se considerava heleno por sua ligação com a cultura grega. Trabalhava como burocrata no Departamento de Irrigação e era considerado um funcionário exigente e severo. Mas muitas vezes espalhava documentos sobre a mesa para disfarçar a escrita de um poema em andamento. Era refinado nos gestos, nas roupas e na cultura, falando, além do grego, inglês e francês com perfeição. Começa a escrever aos 19 anos, mas, exigente só considera ter se tornado poeta aos 38. Descobriu-se homossexual aos vinte anos, ao ter um caso com um primo. Costumava ir em busca de belos efebos nos cafés de Alexandria e embora se dissesse sem preconceitos, envergonhava-se da vida secreta que era obrigado a levar por causa da mãe e da sociedade, dos lugares onde podia realizar seus amores e das bebedeiras que acompanhavam os encontros. Aos poucos não é mais possível manter segredo e ele chega a ser chamado de “outro Oscar Wilde”, o que só aumenta sua fama. Perfeccionista, continuamente reescreveu seus poemas ao longo da vida.
DESEJOS
Belos corpos de mortos que nunca envelheceram,
com lágrimas sepultos em mausoléus brilhantes,
jasmim nos pés, cabeça circundada de rosas –
assim são os desejos que um dia feneceram
sem chegar a cumprir-se, sem conhecerem antes
o prazer de uma noite ou a manhã luminosa.
Tradução de José Paulo Paes