Um dos primeiros e ainda hoje mais notáveis estudos publicados sobre Grande Sertão: Veredas, foi o artigo de Antonio Candido, “O Sertão e o Mundo”, de 1957. Saiu em número especial da revista Diálogo e depois foi republicado em Tese e Antítese com o novo título de “O homem dos avessos”.
Logo de saída, previne o leitor de que o que virá é apenas uma das interpretações possíveis;
“Na extraordinária obra-prima Grande sertão: veredas há de tudo para quem souber ler” (…) Cada um poderá abordá-la a seu gosto, conforme o seu ofício” (111)
Mas não sem deixar de salientar um traço fundamental de Rosa: “a absoluta confiança na liberdade de inventar”, chegando a caracterizar o livro como “navegação no mar alto, jorro de imaginação criadora na linguagem, na composição, no enredo, na psicologia”. (111)
Guimarães Rosa teria sido capaz de “elaborar um universo autônomo, composto de realidades expressionais e humanas que se articulam em relações originais e harmoniosas, superando por milagre o poderoso rastro de realidade tenazmente observada, que é a sua plataforma”. Em suma, baseando-se na “observação da vida sertaneja” para transformá-la “em significado universal graças à invenção, que subtrai o livro à matriz regional para fazê-lo exprimir os grandes lugares-comuns, sem os quais a arte não sobrevive: dor, júbilo, ódio, amor, morte, – para cuja órbita nos arrasta a cada instante, mostrando que o pitoresco é acessório e que na verdade o Sertão é o Mundo.” (112)
A partir dessa introdução, Candido aponta “três elementos estruturais que apóiam a composição: a terra, o homem, a luta” (112)
Obs: Negritos feitos por Marcos Alvito, não estão presentes no texto original; entre colchetes vêm comentários também feitos por Marcos Alvito. Os itálicos ao contrário, pertencem ao próprio texto de Antonio Candido.
Fonte:
CANDIDO, Antonio. (2006), “O homem dos avessos” In: Tese e Antítese, Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul. pp.111-130.