/ROSIANA 013 -Riobaldo tem características de um cavaleiro cortês e há outros elementos de romances de cavalaria segundo MC Proença

ROSIANA 013 -Riobaldo tem características de um cavaleiro cortês e há outros elementos de romances de cavalaria segundo MC Proença

Medeiro Vaz não consegue atravessar o Liso do Sussuarão da mesma forma que Percival ou Lancelote, “apesar de todos os preparativos”, mas Riobaldo, assim como Don Galaaz, “realiza, protegido pelo acaso, sem mesmo se haver preocupado com provisões.” (20)

As mudanças de nome, Riobaldo, depois jagunço Tatarana, depois chefe Urutu-Branco, são características dos cavaleiros corteses. (20)

Até a idade de ouro, de Ovídio, presente nos romances de cavalaria, comparece, com as enxadas que algum dia sairão sozinhas a capinar a roça. (20-21)

E os guerreiros são enumerados em véspera de batalha como nos romances de cavalaria (21):

‘Para que relembrar, divulgar dum e dum, dar resenhas? Do Dimas Dôido – que xingava nomes até a galho de árvore que em cara dele espanejasse, ou até algum mosquito chupador. Do Diodôlfo (…)’ (21)

“O encontro com o povo dos catrumanos, na região inóspita, é episódio de frequente correspondência em romances de cavalaria; lembremos a Ilha Encantada onde esteve Clarimundo” (22)

A vingança contra os ‘judas’ é como “uma demanda medieval, a luta de Deus contra o Diabo” (22)

“os cavalos passam a adivinhar que Riobaldo, agora, é homem sobrenatural, conserva o cheiro de quem o diabo farejou: aquele gateado, formoso, de imponência e brio, que se abaixa diante dele, depois de quase bolear com o dono, era o diabo e, por isso, gateado. Empina violentamente, mas Riobaldo lhe diz o nome: Barzabu. E porque havia adquirido ascendência sobre o diabo, porque deixára de temê-lo, altas horas na encruzilhada, o cavalo se submete, aceita que o dono lhe mude o nome para Siruiz, manso, doce nome do poeta da neblina.” (23)

“Ao dono das terras ele dá como gage de aliança, não ‘correntias moedas de ouro do rei, mas costumeiras prendas de louvor aos santos'” (23)

“A convocação dos catrumanos para seguirem com os jagunços tem um sentido de grandeza legendária.” (23)

“Na comitiva, o cego e o menino, inúteis e, por isso mesmo, dão a nota de grandeza e majestade, viajando a par com ele; Diadorim é o cavaleiro gentil” (24)

“Antes, porém, de empreender a demanda dos judas, é preciso voltar aos campos do Urucúia, receber os eflúvios da terra, encher os olhos da contemplação dos buritis, os ouvidos, com o berro dos bois. Quem vai vencer ou morrer, deve dar adeus às coisas queridas, à terra-mãe.” (24)

“Em sonhos corteses, pensa em Otacília”, ‘montada num bom cavalo corcel’, com a noiva mostrando ‘a grandeza real dela’ (24)

A vingança contra os judas é um bem que se faz à Humanidade: ‘porque eu ia livrar o mundo do Hermógenes’ (24)

“O combate a cavalo, no Tamanduã-tão, é uma verdadeira batalha campal (…) Ali, ele próprio se benze. Era o enviado de Deus, não era pactário.” (25)

“Vez por outra, conscientemente ou não, o romancista deixa entrever em certas expressões as raízes antigas de sua efabulação: Joca Ramiro é ‘um imperador em três alturas’ um chefe valente é par-de-França, Riobaldo lê o Senclér das Ilhas e se compara a Guy de Bourgogne.” (25)

Bibliografia:

PROENÇA, Manuel Cavalcanti. (1958) Trilhas no Grande sertão. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional.