/ROSIANA 023 – Latinismos, arcaísmos, indianismos, alguns aspectos da forma em Grande sertão: veredas

ROSIANA 023 – Latinismos, arcaísmos, indianismos, alguns aspectos da forma em Grande sertão: veredas

Latinismos: p.ex. ‘… os hermógenes (…) renitiam feito peste’, do latim Reniti (depoente): resistir a, forcejar contra; outro: ‘ Zé Bebelo perequitava, assoviando’, do latim Perequitare: Percorrer fileiras a cavalo, andar a cavalo para lá e para cá. (72)

Arcaísmos: um pouco difíceis de se estabelecer porque “muitos regionalismos brasileiros são formas arcaicas ainda viventes”, de qualquer forma, p.ex. ‘Medeiro Vaz estava ali, num aspeito repartido’; ‘… sempre bater para o nascente, direitamente em cima de tremedal’; ‘Se nanja, sei não’;

Além disso, há também formas sintáticas em desuso, que aparecem frequentemente: ‘… a inocência daquela maldade. A qual que me aluava’; ‘Onde que, mas dele livre me vi, gritei, despachado’.

E também palavras de uso corrente empregadas com significação arcaica: ‘Mesmo o mais grave sido que restamos sem os burros’; ‘Saí alegre do bordel, acinte‘ (73)

Palavras eruditas: p.ex. ‘Não vim socolor de disfarces, com escondidos’; ‘… atravessamos o córrego, pulando pelas alpondras

Indianismos:  só raramente, mas ocorrem, p.ex.: ‘um mato fechado caapuão‘; “um caboclo rastejador que viria para tapejar o bando de Joca Ramiro”; jagunços “disfarçados de mbaiá(…) isto é, revestidos com moitas verdes e folhagens’; (74)

Explicações: Tapejar. Na Amazônia existe a forma tupi tapejara, designando os (74)
“conhecedores de caminhos, os guias”; mbaiá “é designação que a si mesmos davam os guiacurus; e era deles o ardil de se disfarçarem com galhos de arbustos durante o combate” (75)

et alii: “Mas não só com a língua portuguesa, o latim e o tupi, Guimarães Rosa se permitiu liberdades de criador. Foi buscar palavras onde quer que correspondessem ao seu desejo de música ou de força expressional. Assim, inventou quirguinchar para o grunhido do tatu, partindo do quíchua quirquincho, ainda hoje usado em vários países da América espanhola para designar esses desdentados. E até o deus babilônico Shamash vem para o grande sertão, onde o sol chamacha. Em ambos os casos, entretanto, a liberdade se apoia em coincidências fonéticas – chama e guincho – disfarçando o pleonasmo sem quebrar-lhe a força.” (75)

(Continua, se os deuses forem bons 🙂 )

Bibliografia:

PROENÇA, Manuel Cavalcanti. (1958) Trilhas no Grande sertão. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional.