Faz uma divisão entre a “matéria historicamente dada” e a “matéria imaginária”. (12)
“Quanto à matéria historicamente dada, é ela a matéria do sertão, com o homem pobre do meio rural brasileiro, seu estilo de vida, sua maneira de enfrentar o mundo, o sistema de dominação vigente, a violência que o garante. É privilegiado no romance um dos aspectos desse meio, qual seja o cangaço, com o jagunço como figura central. O romance mostra como a condição do sertanejo pobre é radicalmente ambígua, como sua dispensabilidade redunda em dependência, sua liberdade em submissão; isto se passa, todavia, fora de sua consciência. É Riobaldo, narrador-personagem que, tendo uma vida dividida em duas partes – como membro da plebe rural quando menino e quando jagunço, como membro da camada dominante quando jovem e quando velho – tem distância crítica para perceber a ambiguidade da condição do pobre, pacífico ou guerreiro, conforme sirva aos interesses de quem manda.” (12)
GALVÃO, Walnice Nogueira.
(1972) As formas do falso. Um estudo sobre a ambiguidade no Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Editora Perspectiva.