“o texto que mais se alastrou pelo sertão e mais vida e popularidade teve, foi a História do Imperador Carlos Magno e dos Doze Pares de França – Seguida da de Bernardo del Carpio que Venceu em Batalha aos Doze Pares de França. (…) Um exemplar de tal livro, que nada tem de raro ainda hoje, mostra, no descuido de sua edição, na qual não se pode ter confiança, na modernização da ortografia, na falta de informações (58)
bibliográficas que se esperariam encontrar no volume, na vulgaridade da capa, um destino que transcende o círculo dos letrados.” (59)
“Trata-se de uma novela de cavalaria, em prosa, a que Luís da Cãmara Cascudo assim se refere: ‘era o grande livro de História para as populações do interior’.” (59)
Seg. Cascudo haveria um texto francês (Conquêtes du grand Charlemagne) de 1485, traduzido em Espanha em 1525, onde tivera grande êxito bem como em Portugal. A forma que chega no Brasil, constando de duas partes, veio a luz em Portugal em 1745 (a primeira parte foi publicada antes). (59)
“Esse livro tem sido a fonte inexaurível de inspiração para os cantadores sertanejos. Contando com um número imenso de episódios em seu vultoso volume, deu também origem a uma imensa cópia de cantigas em verso, na arcaizante forma tradicional. Foi esse livro, – os episódios avulsos narrados oralmente e assim passando de geração a geração, as cantigas que dele se originaram, e mais tarde os romances de cordel impressos a partir delas – que alimentou, formou e tornou-se parte do imaginário do sertão.” (59)
“Hugo de Carvalho Ramos [no seu Tropas e Boiadas, de 1917] generaliza a presença do livro, falando das ‘aventuras dos doze pares de França, livro tido em grande estima no sertão, cuja leitura, nos serões solarengos das fazendas do interior, era feita em torno do lampião de querosene à família atenta'” (60)
Gustavo Barroso diz que quando o dono leu o livro sobre Carlos Magno o cachorro se chama Ferrabraz ou Roldão e em nota de rodapé: ‘É um livro de fancaria que todo o sertanejo conhece por ter lido ou de referências.’ (60)
Na Guerra do Contestado “o grupo de elite dirigente dos insurretos intitulava-se os pares-de-França; e, em sua compreensão ao pé da letra da velha expressão medieval, eles eram vinte e quatro, e não doze.” (61)