ROSIANA 085 – O monólogo-diálogo entre Riobaldo e o doutor e as características deste último
“O travessão que precede a primeira palavra do romance, e que só se fecha no ponto final da última página, instaura o monólogo como um dos lados de um (69) diálogo; mas o diálogo que se contém nele é suposto. Nenhuma só vez o monólogo é interrompido para dar lugar ao interlocutor. (…) Colocam o intelocutor dentro do monólogo: as alusões diretas que o narrador faz a ele – ‘Mas, o senhor sério tenciona devassar a raso este mar de territórios, para sortimento de conferir o que existe?’; as ‘respostas’ que têm a pergunta sugerida pela forma da frase – ‘Do demo? Não gloso. Senhor pergunte aos moradores.’; as perguntas que o narrador faz a seu ouvinte, sugerindo a ocorrência de uma resposta pela continuação da frase – ‘Por que o Governo não cuida? Ah, eu sei que não é possível. Não me assente o senhor por beócio’. Assim vai se compondo a figura deum intelocutor que é hábil inquiridor, simpatizante e letrado.” (70)
GALVÃO, Walnice Nogueira.
(1972) As formas do falso. Um estudo sobre a ambiguidade no Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Editora Perspectiva. pp. 69-70.