VII – Os “espaços proibidos” e a “guerra espacial” Steven Flusty em “Construindo a paranóia” fala da construção de “espaços proibidos” nas áreas metropolitanas, cumprindo a função interna que antes os fossos e torreões dos castelos medievais cumpriam diante das ameaças externas. “Esses e outros ‘espaços proibidos’ não servem a outro propósito senão transformar a extraterritorialidade da nova elite supralocal no isolamento corpóreo, material, em relação à localidade. Elas também dão um toque final na desintegração das formas localmente baseadas de comunhão, de vida comunitária. A extraterritorialidade das elites é garantida da forma mais material – o fato de serem fisicamente inacessíveis a qualquer um que não disponha de uma senha de entrada.” “As elites escolheram o isolamento e pagam por ele prodigamente e de boa vontade. O resto da população se vê afastado e forçado a pagar o pesado preço cultural, psicológico e político do seu novo isolamento.” “O território urbano torna-se o campo de batalha de uma contínua guerra espacial, que às vezes irrompe no espetáculo público de motins internos, escaramuças rituais com a polícia, ocasionais tropelias de torcidas de futebol, mas travadas diariamente logo abaixo da superfície da versão oficial pública (publicada) da ordem urbana rotineira.” A resposta dos desprezados: também tentar jogar o jogo de demarcar território “Os habitantes desprezados e despojados de poder nas áreas pressionadas e implacavelmente usurpadas respondem com ações agressivas próprias; tentam instalar nas fronteiras de seus guetos seus próprios avisos de ‘não ultrapasse’. Seguindo o eterno costume dos bricoleurs, usam para isso qualquer material que lhes caia em mãos – ‘rituais, roupas estranhas, atitudes bizarras, ruptura de regras, quebrando garrafas, janelas ou cabeças, lançando retóricos desafios à lei’. Eficientes ou não, essas tentativas têm a vantagem da não-autorização e tendem a ser convenientemente classificadas nos registros oficiais como questões que envolvem a preservação da lei e da ordem, em vez do que são de fato: tentativas de tornar audíveis e legíveis suas reivindicações territoriais e, portanto, apenas seguir as novas regras do jogo territorial que todo mundo está jogando com prazer.” Para os desprezados a alternativa está entre aceitar a derrota com humilhação e reagir com dignidade (embora também venham a ser derrotados); de qualquer forma a vitória será do seguinte: “a nova fragmentação do espaço da cidade, o encolhimento e desaparecimento do espaço público, a desintegração da comunidade urbana, a separação e a segregação – e, acima de tudo, a extraterritorialidade da nova elite e a territorialidade forçada do resto.”
Bibliografia:
BAUMAN,Zygmunt [1999] Globalização: as consequências econômicas.Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor.Capítulo 1: “Tempo e Classe”, pp.13-33.