/A QUINTA TRAVESSIA – MAKING OF

A QUINTA TRAVESSIA – MAKING OF

A vida vai passando sorrateira e a gente faz que não percebe. Hoje me dei conta que vou começar o quinto curso de leitura de Grande sertão: veredas. Prestes a embarcar novamente na aventura do amor de Riobaldo e Diadorim, fico na expectativa de viajar a uma terra desconhecida. Pois a cada vez este livro mágico me lê de uma forma diferente.
 
Só consegui ser atravessado por ele na terceira tentativa. Das duas primeira empaquei feito burro teimoso lá pela página 80. A terceira vez foi quando eu estava em Acari, em meio a um mundo masculino, violento, que oscilava entre a brutalidade e a honra. Acari me ajudou a entender o sertão e vice-versa.
 
Mas eu era professor de História e não de literatura. Eis que venho a conhecer um aluno e sobretudo uma pessoa extraordinária, meu doce amigo Gustavo Fialho. Ele me pediu que o orientasse em um trabalho de História Oral sobre os narradores do sertão. Sugeri que fizesse correlações com o Grande sertão: veredas, em que o ato de recordar é muito problematizado. Gustavo se animou com a ideia e com isso me animou a ler o livro pela segunda vez.
 
Fiquei tomado – estou até hoje, pelo sertão rosiano. Sonhava em dar um curso sobre o livro ainda como professor da universidade onde eu trabalhava. Marcada a minha alforria para o fim do primeiro semestre de 2016, parecia não ser possível. Estava escalado para dois cursos que eu odiava. Nada de Rosa, só espinhos.
 
Mas há coisas que só acontecem a um rosiano. Cinco dias antes das aulas começarem, o coordenador me liga e avisa que um dos cursos havia sido cancelado. Coisa que nunca me acontecera em 32 anos. Perguntou se eu tinha algum curso a oferecer. Adivinhem qual foi…
 
Fora dos muros da academia, dei mais três cursos sobre o Grande sertão, estão contando? Quatro. O de hoje é o quinto, mas para mim o mundo sempre recomeça quando leio aquelas seis letrinhas:
 
— Nonada.
 
É hoje!