/BENEDITO NUNES – Comparando a relação com Nhorinhá e com Otacília

BENEDITO NUNES – Comparando a relação com Nhorinhá e com Otacília

“Do contato carnal com Nhorinhá, Riobaldo guarda, a princípio, uma imagem toda sensual e voluptuosa. ‘Recebeu meu carinho no cetim do pelo – alegria que foi, feito casamento, esponsal’. A Otacília, o valente Tatarana, depois Urutú Branco, dedica pensamentos enlevados, como se, através da rememoração, às belezas do corpo dela se acrescentasse, imediatamente, um encanto suprassensível, oriundo de outra beleza, mais elevada e mais pura. ‘Minha Otacília, fina de recato, em seu realce de mocidade, mimo de alecrim, a firme presença.’ Para conquistar essa outra beleza, para alçar-se até aquela imagem de paz, que se assemelha aos remansos do Urucúia, e que dorme em sua alma como secreta reminiscência, de quando em quando despertada, Riobaldo deverá pagar tributo à sensualidade de Nhorinhá – sensualidade que não o detém, e que lhe serve de escala, de via de acesso em direção a Otacília.”

Benedito Nunes. A Rosa o que é de Rosa: literatura e filosofia em Guimarães Rosa. Rio de Janeiro: DIFEL, 2013. pp. 40-41.