A globalização enquanto fábula:
“Este mundo globalizado, visto como fábula, erige como verdade um certo número de fantasias, cuja repetição, entretanto, acaba por se tornar uma base aparentemente sólida de sua interpretação (…)
A máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças que se alimentam mutuamente (…)
[i. aldeia global] “para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas”
[ii. Fala-se no encurtamento das distâncias] “para aqueles que podem realmente viajar” e na noção de espaço e tempo contraídos “como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão”
[iii.] “Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas.”
[iv.] “Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal.”
[v.] “Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado.”
[vi. Fala-se muito em morte do Estado x] “seu fortalecimento para atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as populações cuja vida torna mais difícil.”
[vii. Ao invés do proclamado fim da ideologia, temos a ideologização maciça,] “segundo a qual a realização do mundo atual exige como condição essencial o exercício de fabulações”
Milton Santos, Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 1995.