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Pablo Neruda confessa que é ele mesmo

Pablo Neruda confessa que é ele mesmo  

O inesquecível poeta chileno Pablo Neruda era um homem de esquerda. Ingressou no Partido Comunista do seu país em 1945, ano em que é eleito senador, segundo ele por “gente sem escola e sem sapatos”. Ele justificou esta opção de forma muito bonita em seu livro de memórias, Confesso que vivi:

“Coube a mim sofrer e lutar, amar e cantar; couberam-me na partilha do mundo o triunfo e a derrota, provei o gosto do pão e do sangue. Que mais quer um poeta? E todas as alternativas, desde o pranto até os beijos, desde a solidão até o povo, perduram em minha poesia, atuam nela, porque vivi para minha poesia e minha poesia sustentou minhas lutas.”

Ele não foi um militante e senador de gabinete. Tendo recebido muitos votos da região da mineração de cobre e salitre, foi até esta região deserta conversar com os operários, falar em suas assembléias, mesmo diante de metralhadoras apontadas. Alojava-se nas casas simples dos trabalhadores, às vezes meras cabanas. Muitas vezes, em reuniões, pediam a ele que lesse seus poemas, escutando-o com “sagrado respeito”. Para ele preparavam guisado de galinha, que ali era uma iguaria, já que o poeta não gostava do prato mais comum entre mineiros, também um guisado, só que preparado com porquinhos-da-índia.

Depois de ver um candidato a presidente que ele apoiara bandear-se para o lado da aristocracia, Neruda começa a fazer uma ruidosa oposição no Senado. Sem demora, é cassado e ordena-se a sua prisão. Mas, como ele diz, os poetas são “feitos em grande parte de fogo e fumaça.” Graças à ajuda de muita gente ele vai de casa em casa escapando da polícia, enquanto aumentava a perseguição anticomunista em todo o Chile com milhares de presos e até um campo de concentração em uma área isolada. Depois de várias peripécias, Neruda consegue chegar até Paris, após um período em Buenos Aires.

Na capital francesa, o poeta é abordado por um jornalista que afirma que o governo chileno havia dito que a notícia de que Pablo Neruda havia se refugiado em Paris era falsa, seria apenas um sósia, já que o Pablo Neruda verdadeiro estaria ainda no Chile e as autoridades se encontravam no seu encalço, perto de capturá-lo. O poeta respondeu com uma ironia demolidora:

“Responda – disse ao jornalista – que eu não sou Pablo Neruda mas sim outro chileno que escreve poesia, luta pela liberdade e se chama também Pablo Neruda.”