Leituras de Rosa – Trilhas no Grande sertão – Manuel Cavalcanti Proença 1958 – parte 2 –
Capítulo 1: O plano subjetivo
No capítulo I, “O plano subjetivo”, Cavalcanti Proença desenvolve uma ideia central, de que o livro se estruture em “duas linhas paralelas”:
“a objetiva, de combates e andanças – criadoras da personalidade do jagunço que termina chefe do bando;
e a subjetiva, marchas e contramarchas de um espírito estranhamente místico, oscilando entre Deus e o Diabo.” (6)
Este jagunço aposentado narraria, mais do que sua vida de aventuras, “a secular pendência entre o espírito do Bem e do Mal.” (6)
Há uma oscilação encarnada em Riobaldo e “sua permanente preocupação em saber até onde somos criaturas de Deus ou escravos do Demo” (6)
Há um “mundo instável, em que só Deus é estático.” (6).
Riobaldo sabe que “Deus é a justiça”, “mas não compreende suas misteriosas sentenças, desconcerta-o a cegueira dessa justiça que castiga nos filhos inocentes, o crime do Aleixo. Diante do sofrimento dos cavalos feridos a bala, morrendo sem culpa, alvejados pelos jagunços, pensa: ‘Acho que Deus não quer consertar nada, a não ser pelo completo contrato: Deus é uma plantação. A gente – é as areias.’ ” (7)
Diante da incerteza permanente, Riobaldo, agora fazendeiro sedentário e tranquilo, “vai ao encontro de todos os cultos: ‘Reza é que salva da loucura. No geral. Isso é que é a salvação da alma… Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio.'” (8)
Para Cavalcanti Proença, ao fim da vida, Riobaldo “chega a um quase desencanto religioso, descobrindo, por si, a sabedoria do Eclesiastes, convencido de que é preciso viver com alegria, pensar para diante. ‘Mas eu, hoje em dia, acho que Deus é alegria e coragem – que Êle é bondade adiante, quero dizer. O senhor escute o buritizal.'” (9)
Bibliografia:
PROENÇA, Manuel Cavalcanti. (1958) Trilhas no Grande sertão. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional.