/ROSIANA 073 – Para que serviam os jagunços

ROSIANA 073 – Para que serviam os jagunços

‘Tudo política, e potentes chefias!’: essa a matéria vertente que constitui a vida de Riobaldo, o jagunço. Membro de um grupo armado a serviço de senhores de oposição ao governo no momento, partilha a condição jagunça, potencial de força manipulada por outrem para o exercício do poder. Passível de ser utilizada para o trabalho como para a destruição, para manter a ordem como para ameaçá-la, para impor a lei como para transgredi-la, para vingar ofensas como para praticá-las, as razões que decidem de sua atuação num ou noutro sentido independem de sua escolha. O senhor é quem opta, o jagunço executa. Tudo o que se passa fora da imediatez das tarefas cotidianas, o traçado dos interesses, as linhas-mestras da história, está também fora do alcance de sua consciência. Às indagações de Riobaldo, Jõe Bexiguento responde com seu ‘Uai, Nós vive…’ ; porque: ‘Duro homem jagunço, como ele no cerne era, a ideia dele era curta, não variava.’ ” (47)
GALVÃO, Walnice Nogueira.
(1972) As formas do falso. Um estudo sobre a ambiguidade no Grande Sertão: Veredas. São Paulo: Editora Perspectiva. p. 47.