“Voltando ao plano mais geral: ao longo dos anos 80, a ESPN fracassou em implantar o basquete como esporte mundial (o que seria uma decorrência natural no mundo da universalização da calça jeans e da Coca-Cola, do McDonald’s, do cinema de Hollywood e da música pop), e a Nike teve de lidar, fora do seu programa, com um esporte que lhe era estranho. Correndo atrás do prejuízo, ambas corrigiram a rota e vieram a fazer da incorporação do futebol a seu programa um objetivo estratégico alcançado com sucesso. O ajuste do interesse econômico à realidade cultural, no entanto, não deixa de dizer algo sobre esta: é significativo que o mais mundial dos esportes não faça sentido para os Estados Unidos, e que os esportes que fazem mais sentido para os Estados Unidos estejam longe de fazer sentido para o mundo. O futebol ofereceu uma curiosa e nada desprezível contraparte simbólica à hegemonia do imaginário norte-americano, assinalando, nesta, um intrigante ponto de falha do seu empuxo totalizador.”
José Miguel Wisnik. Veneno Remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p.21.