/O TORCEDOR E O SAPO NA PANELA

O TORCEDOR E O SAPO NA PANELA

A GOTA D’ÁGUA
Todo mundo sabe que o futebol é um show televisivo feito para atrair audiência e vender tudo que se pode vender, de desodorante a SUV. Já há publicidade em todos os locais possíveis e imaginários: na manga, no ombro, no peito e nas costas das camisas dos jogadores, nas meias e sem dúvida deve haver nas cuecas também, vai que alguém é puxado pelo calção, que aliás também ostenta publicidade bem na altura dos glúteos.
As placas publicitárias cercam o campo e impedem a visão completa da rede onde morre a bola em certos studios de futebol, como o ex-Maracanã e o Engenhão. Aliás, muitos desses estúdios de futebol já têm nome de empresas variadas. As competições também têm seu nome modificado para fazer mais um dinheirinho. A tradição, a história, tudo aquilo que um nome carrega, está à venda sim senhor.
Feito aquela história do sapo que vai aos poucos sendo cozinhado em uma panela que de início não está quente, talvez nós torcedores não estejamos percebendo o que aconteceu e continua acontecendo.
Hoje percebi nossa cegueira com clareza. Antes da partida entre Atlético e Palmeiras pela Libertadores, vi a entrada daqueles meninos e meninas que acompanham os jogadores. Antes, era uma coisa simpática ver aquelas crianças realizarem o sonho de adentrar o campo sagrado junto de seus ídolos.
Pois nesta noite os pequenos entraram vestidos de alto a baixo com o uniforme… de um banco. Faço votos de que exista um inferno com direito a todo tipo de maldades. Pois é para lá que eu gostaria de mandar o publicitário (ou publicitária) que inventou uma coisa dessas. E os pais? Será que têm titica no cérebro para permitir seus filhos serem usados deste modo?
Bem, como se dizia no futebol, perdido por um, perdido por mil. Vou propor uma melhor exploração publicitária do futebol. Eis as propostas:
1. Todos os jogadores devem usar boné, um espaço maravilhoso para a publicidade;
2. Ao invés de bandeirinha, que tal uma grande bandeira vendendo uma marca de picolé ou óleo de cozinha?
3. Já que a tendência é banir o gramado em benefício de superfícies plásticas, uma espécie de futebol com camisinha, que tal abolir o verde e pintar logo cada centímetro do gramado com uma ou mais marcas?
Por fim, acho que seria melhor acabar com essa coisa atrasada chamada clube de futebol e organizar logo um campeonato das empresas, com grupos de acordo com o setor. O grupo um, por exemplo, poderia ter os bancos. Os jogos seriam duríssimos, afinal banco não é de dar nada de graça.
Aí sim, as equipes poderiam já entrar em campo vestidas somente com as cores e os símbolos dos seus verdadeiros donos: as empresas. Nada dessa poluição visual do escudo do clube.
Quanto aos torcedores, alcançaríamos finalmente a utopia de Silvio Berlusconi: seriam remunerados para torcer de acordo com o figurino e jamais protestar.
Viva o século XXI!